terça-feira, 29 de junho de 2010

Névoa

Ontem o dia amanheceu com efeito especial. A névoa densa deixou tudo esbranquiçado. A noite anterior de insônia não me deixou aproveitar o percurso, que voltou a ser feito de ônibus, mas ao chegar ao Centro, foi bonito ver os jardins branquinhos. As casas coloridas da Lapa estavam acinzentadas e o frio cortava a carne como fim de tarde em Edimburgo ou manhã bem cedo em Porto Alegre.

Ao contrário da música Teatro dos Vampiros, gosto desses dias tão estranhos. Gosto de ver o azul do mar unindo-se ao do céu, o Cristo na imensidão azul, mas o inverno me atrai. Sempre atraiu. Os fins de tarde lilases, o início da noite roxa, a manhã cinza... são cores diferentes, lembranças diferentes... Formas diferentes de ver a mesma coisa. O diferente não é feio, só precisa ser conhecido.

A manhã avermelhada também deve ser contemplada. Lembro do Legolas: “O céu está vermelho. Sangue foi derramado esta noite”. No Rio, sempre é derramado sangue na noite anterior. O que era raro como um dilúvio em abril, agora é tão comum quanto o calor do verão e, muitas vezes, é de lá que vem o sangue derramado.

As plantas são um show a parte. As folhas amarelas caem e ocultam as cutias no Campo de Santana. Os ipês florescem rosados. Um parque Holandês? Não, não tem tulipas. É só o Rio de Janeiro com paisagem diferente, mas ainda é o Rio que tenta sobreviver aos maus tratos. Como uma criança que sofre violência e ainda consegue sorrir, a natureza nos mostra que vale a pena resguardá-la.

As músicas Senhas, da Adriana Calcanhoto e Beauty of Gray
, do Live, são boas companhias nesse momento.

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