Bom, hoje aconteceu a mais bizarra de todas as coisas egoístas de que eu já soube a existência. Pego o ônibus no mesmo “bat-local”, no mesmo “bat-horário” com os mesmo “bat-motorista” e “bat-trocador”. Eles são supereducados e o trocador chama minha atenção por ser um leitor compulsivo, principalmente de HQ’s, além do sorriso sincero que acompanha o “bom dia” às 8hs. Já até mandei um e-mail para a empresa felicitando o trabalho deles.
A inacreditável viagem de 1:40h do Cachambi ao Centro com o carro vazio começou bem e quando chegou à Praça da Bandeira, notei uma inquietude. O trocador desceu, atravessou a pista cochichou com o rapaz da farmácia e entrou no bar. A esta altura não foi difícil perceber que ele não estava passando bem. Ficamos uns poucos minutos esperando. Como ele não voltou, o motorista parou o ônibus seguinte, igualmente vazio, e avisou que poderíamos trocar de carro, caso preferíssemos. A cordialidade das pessoas que dividem aquele momento diariamente formou uma fila para entrar no outro ônibus e foi quebrada apenas pelos brados deseducados de duas senhoras tentando passar na frente das pessoas. Foram as últimas a sair por terem preferido brigar com o motorista e culpar a leitura do trocador por seu estado de saúde.
“Péra aê, né”!? Com partes desordenadas, pensemos nessa atitude:
1. Como se já não fosse a leitura uma prática pouco comum, agora ainda vai ser criticada?
2. Se eu, que tenho memória de ameba e a atenção de uma minhoca, percebi que o homem lê no ônibus todos os dias, isso não deve ser um problema pra ele, certo?
3. A saúde do gentil trocador não deveria ser mais importante do que o conforto das pessoas?
4. Para que reclamar se as pessoas não foram lesadas em absolutamente nada?
5. A fila é um costume e deve ser socialmente respeitado. Principalmente, pela impossibilidade de dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço.
Como se já não bastasse o mau-humor matutino pela rotina infindável, ter que aturar este tipo de involução me fez justificar ser humana e ficar feliz pelas duas serem as únicas a ficar em pé no outro ônibus.
Hoje é aniversário da minha amiga, filha, companheira e confidente. Quem me dá carinho, preocupação, muitas risadas e algumas tristezas pelas destruições. Quem me socorre quando acordo de pesadelos e me protege enquanto durmo.
Apesar dela não entender direito do que se trata, eu entendo a felicidade tê-la há seis anos, pois, apesar de estar rodeada de amigos e parentes muito especiais, ela está ali o tempo todo incondicionalmente feliz.
Só quem tem uma relação assim consegue conceber. Espero que todos se permitam uma experiência semelhante um dia.