quarta-feira, 23 de junho de 2010

Língua do P


Há muito tempo atrás uma mocinha caminhava pelo shopping com sua mãe quando viu uma promoção de calças jeans. Muito animada, a mocinha resolveu entrar na loja. A vendedora, muito simpática, mostrou-lhe uma das calças que havia em uma cesta. Ao desdobrar a calça, parecia que abrira um livro de tão pequenino que era o modelito. Encafifada, a mocinha se pronuncia:
- Não brinco mais de boneca, é para mim mesmo. Tem maior?
E como resposta recebe:
- Não, o maior número é o 34.

Este pequeno e assustador conto poderia ser usado para cativar criancinhas na hora de dormir, mas aconteceu de verdade com esta que vos escreve. E ainda continuo intrigada. Como um adulto saudável pode vestir 34??? Ainda mais no Brasil onde a bunda impera!

Sei que estou acima do peso e até que nem tenho problemas com isso, mas é na hora da compra que lamento meus abusos. Não tenho paciência de procurar e escolher e experimentar roupas. E tudo piora (muito!) quando a pobre vendedora pergunta “qual o seu tamanho?”. Impossível responder essa pergunta! Em casa, tenho roupas que vão do 42 ao 48. Depende da confecção, do tecido, do corte, da hora, do dia, do humor da vendedora, do meu humor... da teoria da relatividade!!! Os sapatos eram mais padronizados, sempre soube que calçava 37, mas já comprei sapato 36 e 39 (?). Queria entender essa métrica. Como um 42 pode te vestir em uma loja e um 48 em outra?

As blusas eram muito mais fáceis de achar. A anatomia frontal é mais fácil de adaptar que as traseiras. Até porque, tem menos opções de tamanho: P, M ou G. Tinham, meus caros! Tinham! Agora, muito facilmente achará um PP em uma loja de departamentos e não muito distante dela, verá um XP e o G de antes socializou-se, ganhou um amigo no último restaurante, virou GG e, adivinha? Ele está em um bar, restaurante, pizzaria... nunca em uma loja de roupas!

Assumo que na última vez que tentei comprar uma calça e casaco, fiquei bastante frustrada. Será que estou mesmo tão gorda assim? Passei a observar as pessoas na rua. São de todos os tipos. Amém! Mas tem muita gente como eu por ai, e muitas maiores. Como diz o Morrissey, “some girls are bigger than others”. Poxa, que ditadura é essa? Onde essas pessoas se vestem? É algum tipo de influência maligna para que os gordinhos andem nus por ai? Se a regra é que todos tenham corpos que caibam nesses malditos modelitos P’s para exibi-los por ai, deveriam fazer só roupas grandes. Deixem os G’s bem vestidos e os P’s exibindo seus corpos esbeltos. Ora, pois!

O incrível é que o preço é inversamente proporcional ao tamanho da roupa. Como pode um biquíni custar R$ 120? Não tem nem um metro de tecido! Aline, a amiga estilista, deve estar me xingando a essa altura, mas não me refiro a grifes. Entendo que essas não são roupas, são quase obras de arte e custam como tal – agora é a amiga Kel que ri lembrando de nossa discussão no Calabouço (rs). Me refiro à lojas de departamento mesmo! Quando foi que aquela mais famosa do moço careca virou alta costura com comerciais de personagens internacionais? Lembro que detestava ganhar aquela caixinha branca nos meus aniversários! A “de mulher para mulher” agora veste homens também. É tendência, como muitos amigos dizem, mas de onde sai o dinheiro? Várias vezes fui julgada pelas minhas roupas (não pelos amigos, lógico!) e justifico que preferi investir na minha educação. Posso não me vestir bem, mas tenho um diploma, um carro, uma casa e contas em dia. Tudo para um bom crediário. Tive que escolher, não deu para fazer os dois. O povo reclama que paga de 20 à 40% de seu salário em impostos, mas uma roupa completa pode custar em média 25% do salário mínimo! (Blusa R$30, calça R$70, sapato R$30 = R$130) Não que ache certo gastar tanto em impostos - não sem o retorno necessário - mas me parece uma questão de prioridade: o curso de francês para o mestrado ou uma roupa por mês?

Como digo sempre, não julgo ninguém. Quem sou eu para fazer isso? (Ultimamente, então! A “faz merdinha da estrela” está de pilha alcalina nova) Mas acho que as coisas precisam ser pensadas. Também tenho meus delírios de consumo, como a Becky Bloom no filme homônimo, mas é importante saber quem controla quem. Novamente a tal diferença entre querer e precisar que tanto falo. Ninguém pode ser julgado por querer alguma coisa, mas deve ser orientado ao pensar que precisa de alguma coisa supérflua. Um dia conto aqui sobre a minha camisa do Flamengo...

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