quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Só Por Hoje

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Por hoje, são três as piores coisas da vida:
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1. Não ter com quem dividir uma alegria;
2. Não ter com quem dividir uma cerveja;
3. Não ter com quem dividir uma tristeza.
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Já quis tanto uma coisa que chegou a ter medo?
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1. A Alegria
Desenvolvi a capacidade de olhar para fora das situações e me auto-analisar. Claro que não é tão fora assim e nem uma análise tão bem feita, mas consigo perceber algumas sutilezas das situações me colocando um pouco de lado. Fiz isso hoje na aula. Foi o último dia. Estava tensa por entregar o projeto de pesquisa e ao mesmo tempo triste por ter que ficar alguns meses longe da sala de aula, definitivamente, meu lugar favorito. Fiquei pensando em como vai ser legal o dia em que eu conquistar isso tudo. Poder fazer colocações sem sentir insegurança e buscar no olhar das pessoas o que hoje está no meu, um olhar de descoberta misturado com desespero de uma realidade social atroz.
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Fiz uma conquista hoje. Descobri que meu atual professor é marido da professora que me introduziu nesse mundo da Análise Institucional. Na verdade, eu já tinha sabido disso há mais tempo, mas não tive coragem de conversar com ele. Sei lá, podia parecer que eu estava ali por interesse, mas foi só uma feliz coincidência. O mais legal é que ela ligou pra ele logo depois e, quando ele comentou sobre mim, ela lembrou pelo meu nome! Fiquei tão feliz de ser reconhecida... Ganhei o dia! Ela realmente foi uma ótima influência pra minha formação.
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O professor comentou que no próximo semestre dará aula de Análise Institucional. Me enchi de coragem e fui cara de pau:
- Teria problema em assistir sua aula novamente?
Ele respondeu:
- Como aluna ouvinte não. Só não vai contar para quando você entrar.
- Não tem problema, professor! Eu faço novamente depois. Quero é estar em aula.
Nesse ponto pode parecer demagogia ou oportunismo ou, ainda, pra quem me conhece, mais uma insensatez, mas juro que fui sincera. É isso que eu realmente quero.
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2. A Cerveja
Como o curso estava acabando, explorei um pouco mais da boa vontade dos professores entregando um projeto que vou usar como proposta de pesquisa para tentar uma vaga ano que vem. Já venho trabalhando nele há algum tempo, mas dediquei essa semana para isso. Ontem, depois de bater cabeça, ler, reler, ler novamente alguns textos, escrever, apagar, refazer, mover parágrafos inteiros... consegui terminá-lo pouco antes da meia-noite. Ufa! Foi um alívio! Não sei se fiz o melhor trabalho, só vou saber a opinião deles em janeiro, mas fiz o melhor que podia e já posso dizer que tenho alguma coisa. Meu tema é muito extenso e delimitar é o que há de mais difícil. Tudo me parece muito interessante e imprescindível. Fui firme, restringi, cortei e acabei. Dei um urro de alegria quando salvei o bichinho pela última vez. Peguei uma cerveja pra comemorar e aliviar a pressão. Postei meu alívio na internet, era tarde... rolei no sofá até dormir.
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3. A Tristeza
Dizem que amor e ódio vivem juntos. Pra mim, a alegria e a tristeza são indissociáveis. Não sei se é uma característica que adquiri pelas vááááárias porradas que levei, mas não costumo confiar na alegria, ela é curta demais e sempre vem junto com o medo do fim. Por exemplo, a alegria de ter sido reconhecida pela professora vem acompanhada do medo, já que o professor disse que vai mostrar meu projeto pra ela.
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Minha primeira conquista profissional na Psicologia foi o estágio. Cismei que queria fazer um ano e meio de estágio pra ser monitora. Me preparei, fiz matéria do décimo período no sétimo. A coisa fluiu tão bem que passei com média 9.5, juro! Fiz amizade com a professora, que se tornou minha orientadora e depois minha amiga. No semestre seguinte, estava eu toda feliz de jaleco branco atendendo em quatro hospitais. Cheguei a chorar quando recebi a notícia porque eu só podia atender nos fins de semana, já tinha a faculdade e o trabalho, não podia conciliar.
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Aprendi muita coisa lá. Passava o domingo inteiro revezando os pacientes e familiares e depois a equipe. Me sentia recompensada por poder ajudar aquelas pessoas num momento tão crítico. Em troca, elas me ensinaram muita coisa que uso até hoje, principalmente, formas diferentes de ver as situações. Cheguei a passar um aniversário no hospital. O bolo foi dividido com um paciente que eu acompanhava e a filha descobriu que tínhamos nascido na mesma data.
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Consegui fazer o ano todo e depois virei monitora dos estagiários. Foi uma experiência bem importante, mas confesso que, mesmo sentindo falta, no final já estava cansada. É desse fim que sinto medo. É uma característica minha, não gosto de terminar as coisas. Não gosto de terminar livro, não sou boa em terminar textos, detesto despedidas. Sabe quando você está gostando muito do filme e sobem os créditos? Fica um vazio depois...
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Já quis tanto alguma coisa que chegou a ter medo?
Pois é, eu tenho medo de não conseguir. Tenho medo do projeto não ser bom. Tenho medo de, mesmo depois de estar dentro, não ser o que eu pensava. Tenho medo de não acompanhar o ritmo. Tenho medo do dinheiro acabar.
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Mesmo assim, o que eu posso fazer? Não dá mais pra voltar atrás, percebi isso antes de começar e também não é o que quero. Mas, se o que eu quero não der certo, vou ter que procurar outra coisa que eu queira e tentar até conseguir. Não falo isso por otimismo ou por uma força que, sinceramente, não tenho. Soa muito mais como conformismo. Se não der, paciência. Só espero que tenha alguém pra dividir as alegrias, as cervejas e as tristezas.
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Trilha sonora recomendada: I Want You - Beatles
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