terça-feira, 29 de junho de 2010

Névoa

Ontem o dia amanheceu com efeito especial. A névoa densa deixou tudo esbranquiçado. A noite anterior de insônia não me deixou aproveitar o percurso, que voltou a ser feito de ônibus, mas ao chegar ao Centro, foi bonito ver os jardins branquinhos. As casas coloridas da Lapa estavam acinzentadas e o frio cortava a carne como fim de tarde em Edimburgo ou manhã bem cedo em Porto Alegre.

Ao contrário da música Teatro dos Vampiros, gosto desses dias tão estranhos. Gosto de ver o azul do mar unindo-se ao do céu, o Cristo na imensidão azul, mas o inverno me atrai. Sempre atraiu. Os fins de tarde lilases, o início da noite roxa, a manhã cinza... são cores diferentes, lembranças diferentes... Formas diferentes de ver a mesma coisa. O diferente não é feio, só precisa ser conhecido.

A manhã avermelhada também deve ser contemplada. Lembro do Legolas: “O céu está vermelho. Sangue foi derramado esta noite”. No Rio, sempre é derramado sangue na noite anterior. O que era raro como um dilúvio em abril, agora é tão comum quanto o calor do verão e, muitas vezes, é de lá que vem o sangue derramado.

As plantas são um show a parte. As folhas amarelas caem e ocultam as cutias no Campo de Santana. Os ipês florescem rosados. Um parque Holandês? Não, não tem tulipas. É só o Rio de Janeiro com paisagem diferente, mas ainda é o Rio que tenta sobreviver aos maus tratos. Como uma criança que sofre violência e ainda consegue sorrir, a natureza nos mostra que vale a pena resguardá-la.

As músicas Senhas, da Adriana Calcanhoto e Beauty of Gray
, do Live, são boas companhias nesse momento.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Língua do P


Há muito tempo atrás uma mocinha caminhava pelo shopping com sua mãe quando viu uma promoção de calças jeans. Muito animada, a mocinha resolveu entrar na loja. A vendedora, muito simpática, mostrou-lhe uma das calças que havia em uma cesta. Ao desdobrar a calça, parecia que abrira um livro de tão pequenino que era o modelito. Encafifada, a mocinha se pronuncia:
- Não brinco mais de boneca, é para mim mesmo. Tem maior?
E como resposta recebe:
- Não, o maior número é o 34.

Este pequeno e assustador conto poderia ser usado para cativar criancinhas na hora de dormir, mas aconteceu de verdade com esta que vos escreve. E ainda continuo intrigada. Como um adulto saudável pode vestir 34??? Ainda mais no Brasil onde a bunda impera!

Sei que estou acima do peso e até que nem tenho problemas com isso, mas é na hora da compra que lamento meus abusos. Não tenho paciência de procurar e escolher e experimentar roupas. E tudo piora (muito!) quando a pobre vendedora pergunta “qual o seu tamanho?”. Impossível responder essa pergunta! Em casa, tenho roupas que vão do 42 ao 48. Depende da confecção, do tecido, do corte, da hora, do dia, do humor da vendedora, do meu humor... da teoria da relatividade!!! Os sapatos eram mais padronizados, sempre soube que calçava 37, mas já comprei sapato 36 e 39 (?). Queria entender essa métrica. Como um 42 pode te vestir em uma loja e um 48 em outra?

As blusas eram muito mais fáceis de achar. A anatomia frontal é mais fácil de adaptar que as traseiras. Até porque, tem menos opções de tamanho: P, M ou G. Tinham, meus caros! Tinham! Agora, muito facilmente achará um PP em uma loja de departamentos e não muito distante dela, verá um XP e o G de antes socializou-se, ganhou um amigo no último restaurante, virou GG e, adivinha? Ele está em um bar, restaurante, pizzaria... nunca em uma loja de roupas!

Assumo que na última vez que tentei comprar uma calça e casaco, fiquei bastante frustrada. Será que estou mesmo tão gorda assim? Passei a observar as pessoas na rua. São de todos os tipos. Amém! Mas tem muita gente como eu por ai, e muitas maiores. Como diz o Morrissey, “some girls are bigger than others”. Poxa, que ditadura é essa? Onde essas pessoas se vestem? É algum tipo de influência maligna para que os gordinhos andem nus por ai? Se a regra é que todos tenham corpos que caibam nesses malditos modelitos P’s para exibi-los por ai, deveriam fazer só roupas grandes. Deixem os G’s bem vestidos e os P’s exibindo seus corpos esbeltos. Ora, pois!

O incrível é que o preço é inversamente proporcional ao tamanho da roupa. Como pode um biquíni custar R$ 120? Não tem nem um metro de tecido! Aline, a amiga estilista, deve estar me xingando a essa altura, mas não me refiro a grifes. Entendo que essas não são roupas, são quase obras de arte e custam como tal – agora é a amiga Kel que ri lembrando de nossa discussão no Calabouço (rs). Me refiro à lojas de departamento mesmo! Quando foi que aquela mais famosa do moço careca virou alta costura com comerciais de personagens internacionais? Lembro que detestava ganhar aquela caixinha branca nos meus aniversários! A “de mulher para mulher” agora veste homens também. É tendência, como muitos amigos dizem, mas de onde sai o dinheiro? Várias vezes fui julgada pelas minhas roupas (não pelos amigos, lógico!) e justifico que preferi investir na minha educação. Posso não me vestir bem, mas tenho um diploma, um carro, uma casa e contas em dia. Tudo para um bom crediário. Tive que escolher, não deu para fazer os dois. O povo reclama que paga de 20 à 40% de seu salário em impostos, mas uma roupa completa pode custar em média 25% do salário mínimo! (Blusa R$30, calça R$70, sapato R$30 = R$130) Não que ache certo gastar tanto em impostos - não sem o retorno necessário - mas me parece uma questão de prioridade: o curso de francês para o mestrado ou uma roupa por mês?

Como digo sempre, não julgo ninguém. Quem sou eu para fazer isso? (Ultimamente, então! A “faz merdinha da estrela” está de pilha alcalina nova) Mas acho que as coisas precisam ser pensadas. Também tenho meus delírios de consumo, como a Becky Bloom no filme homônimo, mas é importante saber quem controla quem. Novamente a tal diferença entre querer e precisar que tanto falo. Ninguém pode ser julgado por querer alguma coisa, mas deve ser orientado ao pensar que precisa de alguma coisa supérflua. Um dia conto aqui sobre a minha camisa do Flamengo...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Em Uma Galáxia Muito Distante


Acabei de passar a manhã inteira falando com máquinas! Como chegamos à isso? Onde a tecnologia vai nos levar?

Acordei agradecendo à TV pela feliz notícia da aprovação do aumento dos aposentados. Depois briguei veementemente com ela pela notícia, visivelmente manipulada, do fechamento do Banco Federal da Venezuela. Vim para o trabalho na companhia do rádio e cheguei
disposta à executar duas tarefas simples: marcar um exame e reservar uma sala para a reunião de sexta-feira (Eu mereço? Provavelmente sim!). O que parecia simples se tornou o pesadelo de uma manhã inteira.

À princípio, para o exame, falei com dois call centers. Em um dos laboratórios, a atendente só teria disponibilidade de marcar um exame de mapeamento cardíaco para o dia 21 de julho (o.O). Se a atuação do Brasil na copa não me causar um infarto até lá, os gols sem ângulo do Maicon vão! Tentei o segundo. Bem mais simples, mas como seria um encaixe, a atendente me pediu para contatar pessoalmente o plano de saúde para pedir uma senha de autorização. Fiz o solicitado. O atendente do plano praticamente riu dizendo que o laboratório é quem deveria fazer o pedido. Questionei e ele foi ríspido! Respirei fundo, não quero me irritar hoje. Mais tarde vou comer japonês, ver meus amigos e ouvir rock, não combina. Paciente ou ironicamente, disse a ele que iria recomeçar para que a gente pudesse se entender. Ele entrou no clima. Fui para o meu quarto Call Center do dia (o mesmo que o segundo) depois de duas tentativas onde o tempo de espera é inversamente proporcional à sua paciência, consegui um bom atendimento no terceiro. A menina, muito atenciosa, com um pedido de desculpas pela informação anterior equivocada, resolveu meu problema. Contabilizando: 6 ligações para Call Centers.

Segundo problema a ser resolvido: a reserva da sala de reunião. Incrivelmente, é necessário abrir um chamado de TI para usar uma sala que fica à 10 metros de onde trabalho. Deveria ser simples assim. Call Center 1: “Não é aqui, senhora. Ligue para...”. Call Center 2: “Para esta reserva, ligue...”. Call Center 3: “O número certo é...” O PRIMEIRO NÚMERO QUE EU LIGUEI!!! Parece piada, né? Desisti. Como disse, não quero me irritar, não vale a pena. Aliás, mudei o objetivo do meu dia. Meu objetivo agora é conseguir manter a calma. Não vale a pena, é por pouco tempo. Tudo vai passar e fazer mais sentido.

Sabe qual o mais interessante nessa jornada de conversas com máquinas e músicas de espera? Não tinha nenhuma opção de reserva de sala nos menus ou sub-menus que liguei! Em todos eles tive que informar meu nome completo, ID, telefone... Para quê? Receber um e-mail no fim de tudo dizendo que o chamado encontra-se miraculosamente SOLUCIONADO!! O chamado sim, meu problema não!

Quem já estudou basicamente matemática sabe que nas ciências exatas existem várias formas de alcançar o resultado, mas apenas uma resposta. A máquina não pensa. Se for oferecido um problema que ela não está programada para resolver, ela vai te ignorar e entrar em loop, ou colapso, se preferir, te levando diretamente para o início de todo o problema. Assim como em o Mágico de Oz, As Crônicas de Nárnia e tantos outros filmes, você volta ao início como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu! Você teve uma experiência terrível que te ofereceu algum grande aprendizado.
No meu caso foram dois. (a) Seja muito educado com os atendentes. Eles têm o poder de te jogar no olho do furacão. (b) NUNCA CONFIE NAS MÁQUINAS (!). Anakin Skywalker tinha um robô como melhor amigo e veja no que deu.

Tudo bem, não queria fazer a reunião mesmo...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Another Brick In The Wall



Reproduzo aqui mais um argumento para aqueles que pensam ser a ditadura um assunto do passado. Ao contrário, está no nosso presente e, se não houver uma atitude, vai permanecer em nosso futuro sendo propagado por instituições que servem às relações de poder.
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Leia ouvindo "Another Brick In The Wall" do Pink Floyd ou a versão do Class of' 99, minha preferida.
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LIVRO DO EXÉRCITO ENSINA A LOUVAR DITADURA
Colégio militar usa material de história com perfil diferente do indicado pelo MEC
Por Angela Pinho de Brasília
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A história oficial contada aos alunos dos 12 colégios militares do país omite a tortura praticada na ditadura e ensina que o golpe ocorrido em 1964 foi uma revolução democrática; a censura à imprensa, necessária para o progresso; e as cassações políticas, uma resposta à intransigência da oposição.
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É isso que está no livro didático "História do Brasil -Império e República", utilizado pelos estudantes do 7º ano (antiga 6ª série) das escolas mantidas com recursos públicos pelo Exército.
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Nelas, estudam 14 mil alunos, entre filhos de militares transferidos ou de civis aprovados em concorridos vestibulinhos. De cada aluno é cobrada uma taxa mensal de R$ 143 a R$ 160, da qual estão isentos os que não podem pagar. Mas 80% das despesas são custeadas pelo Exército.
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As escolas militares poderiam utilizar livros gratuitos cedidos pelo Ministério da Educação a todas as escolas públicas. Mas, para a disciplina de história, optaram pela obra editada pela Bibliex (Biblioteca do Exército), que deve ser adquirida pelos próprios alunos. Na internet, o preço é R$ 50, mais um caderno de exercícios a R$ 20. O Exército afirma que o material "atende adequadamente às necessidades do ensino de História no Sistema Colégio Militar".
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O livro de história mais adquirido pelo MEC para o ensino fundamental, da editora Moderna, apresenta a tomada do poder pelos militares como um golpe, uma reação da direita às reformas propostas por João Goulart (1961-64). A partir disso, diz a obra, seguiu-se um período de arbítrio, com tortura e desaparecimentos, em que a esquerda recorreu à luta armada para se manifestar contra o regime.
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Já a obra da Bibliex narra uma história diferente: Goulart cooperava com os interesses do Partido Comunista, que já havia se infiltrado na Igreja Católica e nas universidades.
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Do outro lado, as Forças Armadas, por seu "espírito democrático", eram a maior resistência às "investidas subversivas".
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No caderno de exercícios, uma questão resume a ideia. Qual foi o objetivo da tomada do poder pelos militares? Resposta: "combater a inflação, a corrupção e a comunização do país".
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TORTURA
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A obra não faz menção à tortura e ao desaparecimento de opositores ao regime militar. Cita apenas as ações da esquerda: "A atuação de grupos subversivos, além de perturbar a ordem pública, vitimou numerosas pessoas, que perderam a vida em assaltos a bancos, ataques a quartéis e postos policiais e em sequestros".
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A censura é justificada: "Nos governos militares, em particular na gestão do presidente Médici [Emílio Garrastazu, 1969-1974], houve a censura dos meios de comunicação e o combate e eliminação das guerrilhas, urbana e rural, porque a preservação da ordem pública era condição necessária ao progresso do país."
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As cassações políticas são atribuídas à oposição do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). "Embora o governo pregasse o retorno à normalidade democrática, a intransigência do partido oposicionista motivou a necessidade de algumas cassações políticas", diz trecho sobre o governo Ernesto Geisel (1974-79).
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Para o historiador Carlos Fico, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o livro usado nos colégios militares é problemático tanto do ponto de vista das informações que contém como pela forma como conta a história.
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"O principal motivo do golpe foi o incômodo causado pela possibilidade de que setores populares tivessem uma série de conquistas."
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Mas, para Fico, mais grave ainda é a forma como o livro narra o período, com uma "história factual" carente de análise, focada apenas na ação dos governos. "Trata-se de uma modalidade desprezada inclusive pelos bons historiadores conservadores" , avalia.
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O mais interessante é perceber a fonte da notícia. Busquei o texto na internet em sua fonte original, a Folha de São Paulo, mas consta em conteúdo restrito para assinantes. Pude encontrar o texto na íntegra no site da Força Aérea Brasileira (FAB) como matérias relevantes à instituição, ou seja, a mídia ainda está sendo observada e de perto. Segue abaixo o link.

http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=13/06/2010&page=mostra_notimpol

Sem conhecimento em didática talvez seja difícil ensinar História do Brasil para crianças e adolescentes próximos à nós, mas todo mundo gosta de uma boa estória. Uma saída seria trazer o contato com a realidade objetiva para as fantasias infantis. O período da ditadura foi uma aventura com heróis, vilões e sonhos, componentes de qualquer bom conto infantil. A subversão, contestação e repressão podem envolver adolescentes e fazê-los se interessar pelo assunto.
Fica a dica...

Soluções


**Ok, então como eu pego a coragem dela?**
Nem sempre a solução mais fácil é a melhor para todo mundo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ética



Lembro que minhas aulas de Ética na faculdade eram complicadíssimas. Por mais paciência e qualidade de transmissão de conhecimento que tivesse a professora Eulina, não conseguia muito sucesso, pelo menos comigo. Passei nas provas, mas só fui entender o que é Ética com o tempo.

Algumas questões vêm sendo recorrentes em meus pensamentos. Resultado de uma mistureba cultural que fiz nas últimas semanas. Tenho lido Foucault, vi documentários sobre a vida de Che Guevara, viajei e vi Arquivo X. Lógico que o resultado foi confuso, mas confortante.

Minha identificação com a Análise Institucional, como já citei em um tópico não muito distante, se dá pela relativização que ela concebe. Tudo será analisado por diversos prismas, atravessado por conceitos que muitas vezes não passam tão próximos de nossa percepção e por um observador que, por mais que tente ser imparcial, está inserido naquele contexto, interfere e é interferido polo mesmo.

É meio desesperador ver a coisa dessa forma porque não há uma verdade. O máximo que se encontra é uma sequência de fatos descritos de forma parcial. Hoje entendo a frase "a verdade está lá fora" na abertura de Arquivo X. Se o relato fosse observado pela visão do Mulder, havia uma grande conspiração. Pelos fatos e provas apresentados, não. Nossa leitura da relação com a Scully podia dizer uma coisa que nunca foi explicitada na série. Fato que só quem pode dizer a verdade sobre a série é seu criador. Nunca soubemos se existiam mesmo os aliens ou se o Mulder estava alucinando (considerando só a série, não os filmes).

Para quem acredita em forças superiores ou destino, assim como na série, na vida real o criador também não explica a verdade, deixa tudo à nosso critério e nosso critério é contaminado por nossas experiências anteriores, é tendencioso.

Se não há verdade, o que buscamos? Ora, cada um busca aquilo que deseja. A vida de Che Guevara é muito rica (também nesse aspecto) para ilustrar uma busca. Filho de família de classe média, tinha seus altos e baixos financeiros. Mudaram-se diversas vezes, algumas por conta da asma que o acompanhou até o último dia de vida - alguns dizem que foi o motivo principal de sua captura. Fez faculdade de medicina, jogou rugby e decidiu viajar. Mais até do que na educação libertária que recebeu da mãe, com quem teve vínculo muito forte, Che viu em suas viagens muitas teorias que preenchiam seus livros. A pobreza e a desigualdade social incitaram-no à buscar condições melhores de vida, não apenas para si, mas para todos. A amizade com Fidel viabilizou sua busca.

O relato da vida de Che me parece pertinente à essa altura dos devaneios para elucidar sua morte. Che morreu. Era de carne, osso e fraquezas, como todos nós, mas o que o torna especial? Por que é lembrado até hoje em todo mundo? Ele buscou! Abdicou de tanta coisa e persistiu em sua busca até a morte. Não foi o primeiro rebelde que existiu e espero que não tenha sido o último.

Gostaria muito de poder dizer agora que todos devemos fazer como Che e buscar um bem comum, mas não me proponho tal façanha. Na verdade, não espero tal atitude. Seria ingenuidade, mas me permito pensar que todos buscam um bem, mesmo que para si. Aí entra a Ética! Até onde um bem para si deve transpor o bem do outro? Devemos abdicar do respeito na busca pelo bem? A questão talvez não seja "o que buscamos" e sim "como buscamos".

Se o ser humano é falível, talvez buscar por si só seja suficiente. Buscar uma forma ética de viver pelo bem e com respeito já seria uma diferença grande de comportamento no meio da multidão. Alguns percalços no caminho podem causar deslizes de conduta, mas, particularmente, não acredito nesse papo que "de boas intenções o inferno está cheio". Acho que é a Terra que está cheia de infernos! Tentar desviar deles já é um passo a mais na caminhada. Não justifica os deslizes, mas é uma forma reconfortante de conviver com a culpa pelas más decisões e fraquezas. Mas quem disse que deslizes devem ser justificados? Lamentamos, levantamos a cabeça, continuamos andando e aprendendo a evitar os próximos.
Viajar é uma boa forma de praticar tudo isso. O conato com outras culturas e consciências faz com que percebamos prismas diferentes dos nossos e estar imerso em outra realidade objetiva pode soltar um pouco as amarras e nos permitir experimentar situações inesperadas que nos levam ao conhecimento de si, dos outros e das coisas.

Duas outras fontes me inspiraram ao escrever este texto: o filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança" e a música "I Got Id", do Pearl Jam. No filme uma empresa desenvolve uma máquina qua apaga todas as memórias que você quiser. O protagonista decide apagar os registros de um relacionamento findado e se arrepende durante o procedimento, quando percebe que vale mais lembrar de uma experiência ruim do que não ter esta memória. Até porque os bons momentos são as lembranças mais fortes. Em "I Got Id", letra e música falam sobre as dificuldades dos caminhos das buscas. Bom. essa é a minha verdade sobre o filme e a música...