quinta-feira, 8 de julho de 2010

Memórias da Zona Oeste

O Camping, o sítio e o clube em Vargem Grande


É interessante perceber como paisagens, aromas e outras coisas podem nos levar no tempo até situações remotas. O cheio de mato, por exemplo, me lembra a adolescência. Boa fase! Começou com as longas e prazerosas férias em Vargem Grande, depois se urbanizou e a sensação que tenho muitas vezes é que se estende até hoje através dos amigos conservados.

As aventuras em Vargem Grande eram as melhores! Andar de bicicleta na lama, subir até a piscina do sítio pela cachoeira, conversar no galpão até tarde, jogar sinuca, volei, tomar banho na ducha, colher goiaba, ir à praia com os primos... tudo era ótimo! As melhores situações insistem na minha fraca memória.

Uma delas era sair todo mundo junto de bicicleta pela estrada de terra batida até chegar à pista de MotoCross, passar por toda aquela lama e continuar até o templo budista que tinha um grande jardim de coqueiros enfileirados, cortado por um riacho com pontes vermelhas e lírios amarelos na margem. Parecia delírio onírico. Ficávamos deitados na grama buscando coragem para entrar no templo que nunca entrei. Culpa dos contos assustadores que rondavam o local. Na volta, uma mega bronca pelas horas desaparecidos e o banho coletivo com bicicleta e tudo para tirar a lama na ducha. Também terminou assim o episódio da guerra de lama com todos os primos. Memória mais remota, mas que se faz presente.


Os coqueiros do templo e a pista de motocross respectivamente

Outra, foi a vez que, ao contrário das orientações da minha mãe, fomos para a estrada que passavam carros. Como toda desobediência tem seu preço, o meu foi ficar sem freio entre um carro e uma vala. Substituir a ausência com o pé e fui salva de mergulho no esgoto e um atropelamento por algumas dezenas de centímetros. O óculos não perdoou, deixou uma cicatriz no supercílio que ainda carrego. O dono da venda não sabia se me ajudava ou ficava com medo da bronca que meu pai daria ao saber do acontecido. Na volta, a procissão carregando as bikes e os amigos lamentavam imputando a culpa em si. Não permiti, meus pais haviam ensinado sobre responsabilidade e que não deveria ouvir nada senão a voz da consciência de um adolescente: a mãe.

Com o tempo, passei a acampar sozinha. A viagem de ônibus até lá sem linha amarela já era uma aventura. Me acompanhavam um walkman, fitas k7 gravadas de rádio rebobinadas à caneta Bic e uma pequena mochila. Acabava que todos iam para minha barraca. Ficávamos bebendo e falando besteiras a noite inteira. Talvez o início da vida na chacota. Dessas pequenas alegrias me resta o Bruno como uma grande amizade.

Mudar de escola e fazer novos amigos urbanizou mais a vida social. Conheci meus meninos, os mesmos de hoje. A maioria deles tinha banda e organizávamos festinhas para que eles tivessem onde se apresentar. Chegamos a ganhar algum dinheiro com isso. Depois das noites grunges no Black Night, o MHS era o lugar que eu mais gostava que eles tocassem. Era uma casa antiga no interior de Jacarepaguá, lá pela Taquara, eu acho. Era tão longe que dizíamos que a viagem durava três dias a cavalo do próximo feudo. Tinha uma piscina na frente usada como pista de skate e o quintal gramado enorme com um palco no meio e um bar na varanda. Me sentia bem lá. O dia memorável foi quando uma das bandas de amigos conseguiu colocar fogo no amplificador.

As festas no casarão da Praça Seca também eram ótimas! A falta de luz provocava um “climão” no lugar com as velas que ficavam espalhadas. Uma gambiarra com extensão ligava os instrumentos musicais. Os cômodos tinham buracos nas paredes pichadas usados como passagem. A melhor definição é “festa estranha com gente esquisita” e eu era uma delas, feliz!

Talvez seja importante vivenciar situações díspares para conhecer a tolerância. Minha irmã diz que meus pais foram mais permissivos comigo, mas não é verdade. Não fiz um terço do que queria e se tivesse feito, talvez não tivesse sido bom para mim. Eles faziam cortes cirúrgicos entre o permitir e o negar. Vejo a angústia de algumas amigas com a dificuldade de educar seus filhos e não sei como será na minha vez. Acho que vou querer ir junto para curtir também, como convido meus pais à participar.

Toda essa diversidade gerou uma dúvida. Cresci no mato, na praia e na cidade. Todos parecem apetitosos e não sei qual destino escolher.

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