segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Fotografia e Rótulos

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Há um tempo atrás, tive a oportunidade de fazer uma viagem grande. Um trabalho foi aceito num congresso na Europa e, como já tinha perdido o Latino-Americano, em Cuba, não me permiti faltar esse, mesmo indo sozinha. Quem me conhece sabe que não curto muito viagens convencionais. Além da questão de grana, prefiro viagens mais simples pra ter contato com pessoas e culturas. Talvez mochileira seja mais um dos meus rótulos.
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Um dos meus robbies preferidos é fotografia. Não tenho como investir em uma máquina maravilhosa - não tem lógica ter uma dessas e não poder usar pra não ser assaltada -, então também não invisto em cursos. Meu desafios é esse, buscar de forma amadora paisagens bonitas e aprisioná-las no papel. Até porque, minha memória é tão ruim que isso é bastante providencial (rs).
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Passei quase um mês viajando sozinha e senti muita falta (muita, muita, muita mesmo!) dos meus amigos e família. Pois é! Sou dessas, que pode estar na esquina, mas se estiver em boa companhia, estou em paz, por outro lado, não adianta estar na Europa se estiver sozinha. E quis trazer muitas recordações pra dividir com eles depois. Foi quando dei de cara com uma grande dificuldade, nenhum ajuste que eu fizesse na câmera captava a beleza que eu vivia ali. Passei alguns dias tentando e tirando muitas fotos parecidas pra tentar descobrir a melhor, e nada...
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Foi quando tive uma epifania. Nada do que eu mostrasse ou descrevesse iria fazer com que as pessoas dividissem aquilo comigo. No início, senti uma solidão infinita com essa descoberta, mas depois ela foi um tanto libertadora, pois pude perceber que não adianta tentar fazer com que as pessoas vejam as coisas da forma como você está vendo, cada um têm suas impressões, inclusive sobre você (!), e nada do que você fizer ou explicar vai mudar isso. Pode ser meio desesperadora a falta de esperança que isso pode trazer, mas, mais uma vez, vamos olhar o lado bom das coisas: já que nunca vamos ficar livres dos rótulos, o jeito é não se importar com eles e seremos mais livres sem ter que se explicar para as pessoas. Perceber que o olhar e a emoção são nossos faz com que esperemos cada vez menos das pessoas, com isso, nos decepcionamos menos e podemos nos aceitar com mais facilidade, sem limitações.
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É isso... Ouvindo More or Less do Screeming Trees

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Saudade

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Sabe como identificar que você ama alguém?
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Quando não importa a distância, a situação ou o tempo, você sorri ao lembrar da pessoa. E só esse sentimento é eterno.
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Tio Reinaldo - Meus 15 anos
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Vô Nelson - Meus 15 anos
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Vô Mario - Meus 15 Anos
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Vô Mario

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Tio Celso - 7 Anos
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Vô Nelson
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Vô Mario
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Só Por Hoje

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Por hoje, são três as piores coisas da vida:
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1. Não ter com quem dividir uma alegria;
2. Não ter com quem dividir uma cerveja;
3. Não ter com quem dividir uma tristeza.
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Já quis tanto uma coisa que chegou a ter medo?
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1. A Alegria
Desenvolvi a capacidade de olhar para fora das situações e me auto-analisar. Claro que não é tão fora assim e nem uma análise tão bem feita, mas consigo perceber algumas sutilezas das situações me colocando um pouco de lado. Fiz isso hoje na aula. Foi o último dia. Estava tensa por entregar o projeto de pesquisa e ao mesmo tempo triste por ter que ficar alguns meses longe da sala de aula, definitivamente, meu lugar favorito. Fiquei pensando em como vai ser legal o dia em que eu conquistar isso tudo. Poder fazer colocações sem sentir insegurança e buscar no olhar das pessoas o que hoje está no meu, um olhar de descoberta misturado com desespero de uma realidade social atroz.
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Fiz uma conquista hoje. Descobri que meu atual professor é marido da professora que me introduziu nesse mundo da Análise Institucional. Na verdade, eu já tinha sabido disso há mais tempo, mas não tive coragem de conversar com ele. Sei lá, podia parecer que eu estava ali por interesse, mas foi só uma feliz coincidência. O mais legal é que ela ligou pra ele logo depois e, quando ele comentou sobre mim, ela lembrou pelo meu nome! Fiquei tão feliz de ser reconhecida... Ganhei o dia! Ela realmente foi uma ótima influência pra minha formação.
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O professor comentou que no próximo semestre dará aula de Análise Institucional. Me enchi de coragem e fui cara de pau:
- Teria problema em assistir sua aula novamente?
Ele respondeu:
- Como aluna ouvinte não. Só não vai contar para quando você entrar.
- Não tem problema, professor! Eu faço novamente depois. Quero é estar em aula.
Nesse ponto pode parecer demagogia ou oportunismo ou, ainda, pra quem me conhece, mais uma insensatez, mas juro que fui sincera. É isso que eu realmente quero.
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2. A Cerveja
Como o curso estava acabando, explorei um pouco mais da boa vontade dos professores entregando um projeto que vou usar como proposta de pesquisa para tentar uma vaga ano que vem. Já venho trabalhando nele há algum tempo, mas dediquei essa semana para isso. Ontem, depois de bater cabeça, ler, reler, ler novamente alguns textos, escrever, apagar, refazer, mover parágrafos inteiros... consegui terminá-lo pouco antes da meia-noite. Ufa! Foi um alívio! Não sei se fiz o melhor trabalho, só vou saber a opinião deles em janeiro, mas fiz o melhor que podia e já posso dizer que tenho alguma coisa. Meu tema é muito extenso e delimitar é o que há de mais difícil. Tudo me parece muito interessante e imprescindível. Fui firme, restringi, cortei e acabei. Dei um urro de alegria quando salvei o bichinho pela última vez. Peguei uma cerveja pra comemorar e aliviar a pressão. Postei meu alívio na internet, era tarde... rolei no sofá até dormir.
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3. A Tristeza
Dizem que amor e ódio vivem juntos. Pra mim, a alegria e a tristeza são indissociáveis. Não sei se é uma característica que adquiri pelas vááááárias porradas que levei, mas não costumo confiar na alegria, ela é curta demais e sempre vem junto com o medo do fim. Por exemplo, a alegria de ter sido reconhecida pela professora vem acompanhada do medo, já que o professor disse que vai mostrar meu projeto pra ela.
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Minha primeira conquista profissional na Psicologia foi o estágio. Cismei que queria fazer um ano e meio de estágio pra ser monitora. Me preparei, fiz matéria do décimo período no sétimo. A coisa fluiu tão bem que passei com média 9.5, juro! Fiz amizade com a professora, que se tornou minha orientadora e depois minha amiga. No semestre seguinte, estava eu toda feliz de jaleco branco atendendo em quatro hospitais. Cheguei a chorar quando recebi a notícia porque eu só podia atender nos fins de semana, já tinha a faculdade e o trabalho, não podia conciliar.
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Aprendi muita coisa lá. Passava o domingo inteiro revezando os pacientes e familiares e depois a equipe. Me sentia recompensada por poder ajudar aquelas pessoas num momento tão crítico. Em troca, elas me ensinaram muita coisa que uso até hoje, principalmente, formas diferentes de ver as situações. Cheguei a passar um aniversário no hospital. O bolo foi dividido com um paciente que eu acompanhava e a filha descobriu que tínhamos nascido na mesma data.
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Consegui fazer o ano todo e depois virei monitora dos estagiários. Foi uma experiência bem importante, mas confesso que, mesmo sentindo falta, no final já estava cansada. É desse fim que sinto medo. É uma característica minha, não gosto de terminar as coisas. Não gosto de terminar livro, não sou boa em terminar textos, detesto despedidas. Sabe quando você está gostando muito do filme e sobem os créditos? Fica um vazio depois...
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Já quis tanto alguma coisa que chegou a ter medo?
Pois é, eu tenho medo de não conseguir. Tenho medo do projeto não ser bom. Tenho medo de, mesmo depois de estar dentro, não ser o que eu pensava. Tenho medo de não acompanhar o ritmo. Tenho medo do dinheiro acabar.
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Mesmo assim, o que eu posso fazer? Não dá mais pra voltar atrás, percebi isso antes de começar e também não é o que quero. Mas, se o que eu quero não der certo, vou ter que procurar outra coisa que eu queira e tentar até conseguir. Não falo isso por otimismo ou por uma força que, sinceramente, não tenho. Soa muito mais como conformismo. Se não der, paciência. Só espero que tenha alguém pra dividir as alegrias, as cervejas e as tristezas.
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Trilha sonora recomendada: I Want You - Beatles
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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

L'Amour


Dizem que política, futebol e religião não se deve discutir. Tenho usado este espaço para falar bastante de política, já que é um assunto que me incomoda muito. A copa do mundo também foi tema recorrente e meu time, mesmo não estando em sua melhor fase, não deixou de ter seu espaço. Religião para mim é coisa íntima demais. Cada um tem suas experiências que as fazem acreditar (ou não) no que lhe convém, e, sinceramente, o que acredito é que a "re-ligação", à que se propõe o nome, é mas valiosa que qualquer doutrina. Portanto, nenhum desses temas teve diálogo restrito.
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O grande dogma até agora foi o amor. Já comentei sobre comportamente, mas não havia me atrevido a falar sobre esse sentimento tão misterioso e cheio de estereótipos. Acho que é necessário esclarecimento para escrever com certa coerência, e razão e amor são coisas antagônicas.
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Li outro dia algo do tipo "se o amor não chegou" e pensei muito na forma como o vemos. O amor romântico, como conhecemos, é tão cobiçado que nos cega para as outras formas de amor. Como viver uma vida, mesmo que breve, sem amor? Por pior que seja sua realidade, o amor nos transborda de tal forma que escolhemos pessoas, animais, objetos, lugares, sensações... Amamos tanto que o despejamos em qualquer coisa. Esses amores sempre vêm e quando o amor romântico se vai, são esses amores menos valorizados que nos fazem querer continuar, inclusive com a pessoa que amamos. Isso porque não devemos amar as pessoas de uma só maneira. Não amamos o objeto pessoa, amamos o conjunto pessoa, amamos egoísticamente a forma como ela nos faz sentir.
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Às vezes acontece de não sermos correspondidos no amor romântico e... nossa, queremos morrer!!! Mas isso é só um problema de ritmo. Vamos ser realistas? Qual a probabilidade de gostarmos da mesma pessoa que gosta da gente no mesmo momento em que os dois estão disponíveis e dispostos a ter um relacionamento? É por este índice ínfimo que recorremos à conquista que nada mais é que um jogo de poder. Parece ruim, mas não é. Só se deixa "dominar" quem quer, então, essa também é uma forma de corresponder. O amor romântico segue padrões sociais, tem formato concreto, específico e popular. É em seu nome que contratos são firmados tornando o só indigno, incompreendido. Mas o só também ama, às vezes, tanto que não se pode derramar tudo em uma pessoa só, é preciso amar tudo.
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De qualquer forma, se não se sente correspondido por um amor, faça-o crescer. Ame todas as coisas, principalmente as mais simples. Olhe para cima, deixe seus olhos passarem pelos arranha-céus e veja como o céu é bonito, observe como as plantas insistem em nascer no meio do concreto, como o cachorro mais triste na rua ainda te olha como a esperança de um carinho, como as crianças te encaram buscando um sorriso, como a pessoa de roupa estranha se arrumou toda buscando um elogio. Libere seu amor, ele é toxico, se ficar guardado pode fazer mal.
Alguns amores:
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Liberdade
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Natureza
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Amigos
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Família
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Música

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Contemporaneidade

Quino, desiludido com os rumos deste século no que diz respeito a valores e educação, deixou impresso nos cartoons o seu sentimento.
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"É importante que desde pequeno

aprenda bem como é tudo"
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Obrigada, Dayvid, por compartilhar isso!

domingo, 3 de outubro de 2010

O Rabo Alheio

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Na rua, próximo a zona eleitoral, um casal estica os braços. Tinham um folheto nas mãos.
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- Não, obrigada... e o que vocês estão fazendo e crime.
- Eles são todos bandidos.
- E vocês estão compactuando.
- Precisamos do dinheiro.
- Consigam de uma forma honesta.
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Penso muito em participação popular, é meu tema de pesquisa. Situações como essas só aumentam minha lista de inquetações. Quem somos nós para exigir honestidade se não agimos desta forma? Será que não estamos sendo representados direito? São os políticos que influenciam a população ou a população que influencia os políticos? Não somos frutos da mesma realidade opressora?
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São perguntas que me fazem pensar cada vez mais que uma revolução é necessária e que deve começar de baixo. Me refiro à uma revolução à nível molecular, como diz Guatarri, aquela que começa de dentro, transborda e contagia o próximo. Cuidar de nosso próprio comportamento antes de criticar o dos outros. A fagocitose de idéias funciona assim. Entramos em contato com uma idéia que nos afeta de alguma forma e que nos causa inquietação, revolta, alegria etc. Isso serve como alimento, gera uma energia transformadora. Essa energia é tão grande que não cabe só na gente, precisamos dividir com outras pessoas e se repete o movimento. É assim que funciona a moda, a música, a notícia... por que não funcionar para boas idéias? Idéias que possam mudar pequenas realidades. Não que o comportamento de políticos corruptos seja justificável, mas se a desilusão se transforma em desespero, por que não começamos a mudança nós mesmos? Só precisamos saber nos articular. O que me faz admirar as obras de Van Gogh e Munch é que trata-se de um conjunto de pontos diferentes que formam uma imagem.
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Conversava com meu pai hoje sobre a importância do voto. Ele ficou implicando comigo porque cumpri meu dever cívico com a camisa do Brasil. Quis mostrar meu patriotismo, minha alegria por poder votar, celebrar a democracia. As mulheres demoraram tanto para conquistar este direito que por mais de 20 anos foi negado à toda população. Tantas pessoas morreram, foram torturadas e perseguidas para que nossos direitos civis fossem recuperados que o mínimo que podemos fazer é retribuir agindo de forma consciente, esta é a oportunidade e que venha o segundo turno.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Indique o Sujeito da Oração


Em uma breve atenção à qualquer discurso percebe-se sua qualidade e muito sobre quem o pronuncia através dos sujeitos usados.

O "eu" é o campeão, a primeira pessoa. Seu uso excessivo pode significar para os "psi-chatos" de plantão uma necessidade de ser visto nesta concorrência desleal que é nosso convívio, pois o "eu" tem um rival muito forte: "o outro eu". Não, não estou sendo lacaniana, longe de mim! Descobri que não tenho capacidade de abstração suficiente para entender Lacan. Apenas me refiro aos outros seres humanos que tem a mesma necessidade e estão muito ocupados com seus "eus" para perceber o "eu" dos outros.

O "eu" só é sobreposto em um discurso quando se faz conveniente usar um "nós". Isso acontece quando o "eu" não se sente forte o suficiente. Ele usa o "nós" para ganhar corpo e quando isso acontece, o "nós" é desvalorizado e o sujeito reforçado volta a ser "eu".

O "tu" ou "você" é usado como afastamento. É normalmente acompanhado do dedo indicador em riste - aliás, o nome do dedo já diz tudo. O "você" é um grande dedo-duro, um acusador, aquele que como se quisesse lançar uma mágica, joga tudo através do tal dedo em direção ao outro. Claro que esse poder é destruidor.

O "ele" e seu plural são os mais covardes de todos! Também acompanhados pelo dedo, indicam alguém que nem está na conversa. Uma terceira pessoa, onde não se extende o DIálogo.

Para indicar "eu" o tal dedo aponta aos céus mostrando sua soberania. Por isso, mesmo nunca tendo gostado de estudar portugês, vejo como é importante analisar o sujeito das orações e nas minhas, a parte que mais se intensifica é: "não nos deixe cair em tentação e livra-nos de todo o mal. Amém!"

George Harrison fala mais sobre isso na música I Me Mine, dos Beatles.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Um Oi Para Quem Já Tem


Caros amigos,

Dia 03 completou um mês que nosso convívio diário se extinguiu. Como sabem, não intento me afastar e, por isso, quis dar notícias.
Por aqui tudo anda calmo. Entre as pendências que um desempregado precisa resolver, tenho me dedicado aos estudos e ao Núcleo. Estou muito feliz com isso, embora ainda não seja o suficiente. Mesmo não tendo produzido nada de novo no projeto, as aulas de mestrado têm ajudado a definir melhor algumas questões da pesquisa. Como sempre, Foucault e seus dicípulos me ajudam muito.

As pessoas têm dito que estar fora de uma rotina coorporativa tem me feito bem. De fato, uma prova disso é a distância de tempo entre este e o último post. Criei este espaço para extravasar angustias diárias. Eram coisas mínimas que tomavam proporções enormes em forma de indignação, o que agora não acontece mais com tanta frequência. Não que as coisas tenham mudado, as pessoas ficado mais respeitosas umas com as outras ou os transportes menos lotados, eu mudei. Voltei a um estado de calmaria que sempre gostei de estar e há muito tempo não experimentava. Os que me conhecem a mais tempo sabem que sou uma pessoa tranquila, tolerante e paciente com a maioria das coisas. Até o Felipe eu aturo!

Hoje, voltando para casa, ouvia música e pensava no que havia mudado, no que iria escrever. A dúvida quanto à decisão ainda faz pensar no medo do dinheiro acabar, mas é o mesmo medo que abatia por volta do dia 20 de cada mês. A incerteza do sucesso é a mesma de quando tinham demissões em massa. Então, de repente, olhei para o céu estrelado, respirei fundo e sorri me sentindo tão bem quanto perambulando pelas ruas do velho mundo ano atrás. Foi assim que percebi que liberdade é um estado de espírito. Não é onde e nem em que situação se está, é como se sente.

Nesse momento me sinto bem e isso me faz livre.



Nessa versão de Rei Arthur seus cavaleiros lutam por liberdade e percebem que seu desejo não será satisfeito por um documento e sim em suas consciências.

Mais em: http://www.adorocinema.com/filmes/rei-arthur/

sábado, 14 de agosto de 2010

666


Ontem tive o primeiro contato com meu futuro... gostei muito!! Dois professores fizeram a gentileza de me aceitar como aluna ouvinte na disciplina de mestrado "Perspectivas Democráticas da Formação Humana", minha cara! Mais ainda porque a bibliografia é repleta de Foucault.

A aula foi ótima! A turma participativa em forma de círculo colaborava com as colocações dos professores sem falácias. Sim, teve um momento inesperado onde uma das alunas abordou a característica dicotômica dos sujeitos. Até aí, tudo bem, mas ela começou a falar sobre "bem" e "mal". Quem lê Foucault sabe que esses conceitos platônicos, mais do que dispensáveis, são inaceitáveis nos estudos perspectivistas onde, como o nome diz, tudo será interpretado conforme determinado olhar. A professora mudou a expressão na hora e se contorceu na cadeira até conseguir esclarecer as coisas. Tudo bem, estamos todos aqui para aprender. Confesso que fiquei muito feliz em acompanhar as discussões e fazer ressalvas em uma turma mista de mestrado e doutorado.

Egocentrismos à parte, o que me chamou a atenção foi uma frase dita por uma colega. Em uma colocação sobre as perspectivas diferentes que as classes sociais criam, uma pessoa falou "tem família tão pobre que nem televisão tem". Que frase rica!!! Vejam o poder que a televisão exerce em nossas vidas! O que antes foi símbolo de status, hoje se apresenta como necessidade básica. O custo de mercado é tão acessível que causa espanto uma família que não tem uma dessas em casa. E agora não basta ter tv, tem que ser de plasma 32" pelo menos! A população tem poder de compra e os carnês esrtão ai pra isso.

Agora me permito uma catarse. Redundantemente, uma catarse catártica mesmo, só para dar ênfase! O mesmo acontece com os carros. Alguém já percebeu como as pessoas tem compado carros caríssimos? Quantos 0km se vê pelas ruas atualmente? Até onde sei, a função dos carros é a mesma, andar. Mas não basta ser carro, tem que ser novo. Com isso, um popular custa na média R$25mil. POPULAR??? Sim, as pessoas não podem, mas estão pagando por isso. Os celulares estão no mesmo caminho... coisas do capitalismo.

Voltando à televisão, me pergunto: e se a família não quiser tê-la? Será que é tão vital dar boa noite para o casal das nove horas? Aprender um italiano tosco... Não posso falar por mim, não é o meu caso. Gosto de tv. Adoro assitir filmes, documentários e séries. Dois em especial até me fazem ir para casa em determinado horário. São elas True Blood e Bones, assumo, mas não me sinto prisioneira e consigo imaginar minha vida sem o aparelhinho do mal.

Fora desse contexto mega naturalizado, tenho alguns amigos que não tem tv em casa. São pessoas felizes, inteligentes e atualizadas - muito mais do que eu, que tenho e me isolei das notícias propositalmente. Uma vez, em um programa de decoração, um arquiteto criticava a mania brasileira de arrumar a sala colocando a tv como objeto principal e todas as outras coisas em volta. Pode olhar, tenho certeza que a sua também é assim.

Sendo assim, meus comentários não se dirigem à tv propriamente dita, mas a importância que damos a ela ao ponto de muitas vezes não questionar a forma como a mesma se apresenta ou as coisas que ela institui para gente como verdade, comportamento, atitude...

Tenho certeza que boa parte das frases e idéias que usamos vem do tal aparelhinho fundamental, dono de nossas salas. Uma vez, argumentei em uma aula da pós que o Marketing é a ciência do capeta. Claro que estava exagerando, mas que a tv está ao seus serviços... ah, isso eu acredito!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A-ha! U-hu! Vou comer seu bolo!


Detesto filme romântico! Fiz a grande besteira de tentar ver um deles hoje. Há alguns meses, precisei dar um tempo da leitura técnica e comecei a ler o "Ele Não Está Tão Afim de Você" para desanuviar a mente. Descobri duas coisas: 1. O livro é horrível; 2. Desanuviar a mente é quase impossível.
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Acho feio isso de tentar fazer receita de bolo para tudo, se nem para fazer bolo, receita serve. Minha avó faz os melhores bolos do mundo e não usa receita, nunca usou, faz o bolo com o que tem. Se não tem margarina, ela usa óleo, se não tem três ovos, ela usa dois, não usa batedeira e sempre dá certo. Por que então usar receita para relacionamento? Logo relacionamento! Existe coisa mais complicada do que isso? Talvez por não usar receita, ela tenha ficado casada por sessenta anos e feliz.
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No filme uma das mocinhas fala sobre os sinais que acontecem no período "pré-relacionamento". Aquela fase mais chata de todas onde não se sabe o que fazer, falar... o frio na barriga e o nó na garganta pioram tudo e buscam-se as receitas. Ela faz leituras ensandecidas sobre o que cada ação do mocinho quer dizer quando, na verdade, não querem dizer nada. Andei pensando sobre esse tipo de comportamento e, infelizmente, hoje ele é meio que preciso, pois temos a necessidade de nos preservar e não nos expor às situações constrangedoras. É assim que nos colocamos a mercê das entrelinhas, do subentendido.
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Psicanaliticamente, poderíamos dizer que este comportamento é produto da nossa vontade mais íntima de querer se relacionar com a influência social de que temos ser sempre superiores em nossas relações. Ou o contrário, nosso desejo mais profundo de sermos superiores com a necessidade social de se relacionar, depende do contexto de cada um - apesar de achar que nossos desejos mais íntimos também são frutos do meio. De qualquer forma, a pergunta é: quem disse isso? Por que temos que ser superiores em tudo?
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O fato de querer relacionar-se não é o foco desta argumentação. Deveria ser uma opção de cada um. As relações de poder que permeiam este envolvimento é que me intrigam. Até onde sei, em um relcionamento são necessários sempre dois (mesmo que sejam duas coisas, não necessariamente seres humanos. Não! Não estou falando de panssexualismo nem, muito menos, de zoofilia! =p). Então questiono, por que o indivíduo se dispõe a entrar num relacionamento se ele não está disposto à partilhar nada?
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Se expor nesse mundo estranho que a gente vive pode não parecer a opção mais esperta, mas, nesse caso (na verdade acredito que em todos os outros também), ser espontâneo não seria uma opção melhor? É mais simples, gasta-se menos energia e tempo. Não vejo sentido em toda aquela menipulação de sentimentos e opiniões para começar uma coisa que está fadada, no minimo, à uma insatisfação porque o "contrato" feito anteriormente entre as partes não pode ser cumprido por falta de autenticidade.
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Mas o que detesto mesmo nesse tipo de filme é o final previsível onde tudo sempre dá certo. Isso sim é ficção, imaginar que tudo sempre acontece como o esperado. Por mais otimista que se precise ser, o bolo às vezes sola e se isso aconteceu, verifique onde errou e tente novamente, mas lembre-se que bolo solado também pode ser gostoso. É só saber aproveitá-lo.
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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Livros, Filmes e Cigarro

Machado de Assis, William "D-Fens" Foster e Michel Foucault
Oprimidos pela realidade, resolveram agir

Recebi uma notícia muito interessante de um amigo esses dias. Ele sugeriu que ela fosse postada aqui no blog. O que foi mais do que aceito! Além da participação que pedi no último post o assunto tem muito do que ando estudando no meu curso sobre controle social na obra de Foucault. Vamos à notícia:

17/07/2010 09h00 - Atualizado em 17/07/2010 13h32
Músico preso por plantar maconha teme que caso se repita
Pedro Caetano ficou 14 dias preso como traficante de drogas.

Neurocientistas fizeram carta em apoio ao baixista.
Marília Juste Do G1, em São Paulo

O músico carioca Pedro Caetano, o “Pedrada”, vê os 14 dias em que esteve preso acusado de tráfico de drogas por plantar maconha em sua casa como uma “lição de vida” e diz que seu maior temor é que isso aconteça com outra pessoa. Caetano foi liberado após a promotoria trocar a acusação de tráfico pela de posse de substâncias ilícitas.


“Ainda há confusão sobre quem é usuário e quem é traficante. Não sou traficante. Plantava para o meu consumo, para não dar poder aos traficantes. O que aconteceu comigo não pode acontecer com mais ninguém”, disse ele em entrevista ao G1.

Caetano, baixista da banda de reggae Ponto de Equilíbrio, foi
preso em sua casa em Niterói em 1º de julho após uma denúncia anônima ter levado a polícia a sua casa. “Não sei quem foi. Deve ter sido alguém da vizinhança, que se incomodou. Dava para ver a plantação do quintal, alguém pode ter visto do alto, não sei”, afirma.

Nos 14 dias em que esteve preso, Caetano recebeu o apoio de amigos e fãs, até que uma nova promotora do caso retirou a acusação de tráfico e reapresentou seu caso, o acusando apenas de posse de substância ilícita. Na quarta (14), ele foi liberado após autorização de um juiz.

“Sigo a religião e a filosofia do rastafári. Não sou bandido. Sou um cara trabalhador, que tem a vida resolvida. Sustento minha família com meu trabalho”, afirma. Ele conta que plantava a droga há cinco anos para “não sustentar o tráfico e não correr riscos de saúde”.

Sobre a
carta que quatro neurocientistas fizeram para defender a sua libertação, ele se diz agradecido. “Teve um impacto grande. A gente precisa disso, de pessoas renomadas e inteligentes se posicionando. É um assunto importante, o que aconteceu comigo pode acontecer de novo”, afirma.

Caetano defende a descriminalização do uso recreativo da maconha. “Passei 14 dias lá sem fumar e não sofri nada. Não sou viciado. Estou sem fumar até agora, sem problemas”, conta.

Cabeça raspada
Ao chegar na delegacia, em São Gonçalo, teve que aguardar o fim do jogo entre Brasil e Holanda, na manhã do dia seguinte, 2 de julho, para ser processado na carceragem.

“Foi o momento mais difícil. Cheguei ali, tinha 18 presos na cela, um monte de gente, uma coisa suja, meio assustadora. Eu não sabia o que ia acontecer e tinha que esperar o jogo acabar para eles virem falar comigo”, conta.

Antes de ser enviado a sua cela, Caetano teve que raspar os longos cabelos com “dreadlocks” e a barba, que cultivava há mais de três anos. “Era uma questão de higiene. Tem muita gente ali, eles precisam manter o controle. Eu compreendi. Fiquei chateado, mas era uma coisa que precisava ser feita. Entendo o motivo”, afirma.

De São Gonçalo, o baixista foi levado à Polinter do Grajaú, onde ficou os 13 dias seguintes, em uma cela com outros dois presos.“Dei sorte. A cadeia tem divisões, como a sociedade. Tem as celas pro povão, onde tem 70 pessoas num espaço de 40 metros quadrados. Daí tem as celas pro povão ‘especial’, com menos gente. E as celas pra universitário e quem tem dinheiro, em que o cara fica sozinho. Eu fiquei na intermediária, eu e mais dois em uma cela de uns nove metros quadrados.”

Caetano era o único preso por envolvimento com maconha. Seus companheiros de cela eram um acusado de assassinato e um acusado de pedofilia. “O acusado de assassinato era culpado mesmo, ele matou a mulher. O outro foi acusado injustamente. Eu vi a índole dele, não era uma má pessoa”, conta.

Apesar de avaliar a experiência como “horrível”, Caetano diz que conheceu muita “gente de bem” na Polinter. “Não sofri violência nenhuma. Os policiais me trataram com muito respeito. Os presos também. A igreja evangélica faz um trabalho importante lá dentro, é muito presente, leva conforto e deixa a experiência toda menos dolorida”, avalia.Um dos policiais da Polinter que conheceu Caetano enquanto o músico esteve preso afirmou que seu comportamento era "normal" e que não houve problemas durante o período em que ele esteve na carceragem.

Volta à rotina
De volta a sua casa, Caetano diz que vive “um momento de reflexão”. Ele conta que não vai retomar a plantação no quintal. “Estou vivendo um período de jejum. O jejum também faz parte da nossa filosofia. Agora vou dar um tempo e me concentrar no meu trabalho.”Com seu baixista de volta, a banda Ponto de Equilíbrio deve sair em turnê no segundo semestre. “Nosso novo CD se chama ‘Dia após dia lutando’. Tem tudo a ver com esse meu momento. Vamos seguir na luta”, diz Caetano.

“A cadeia é um aperto muito grande. Nasci de novo ao sair. Aprendi a dar mais valor para tudo, espiritualmente, materialmente. Agora agradeço por cada almoço que eu tenho e cada centavo que ganho. Só espero que ninguém mais tenha que passar pelo que eu passei.”


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Gostaria de entender porque as diferenças incomodam tanto as pessoas. Sinceramente, não consigo perceber qual o problema de uma pessoa plantar e consumir sua erva em casa. Na matéria, o baixista bem articulado argumenta que começou a plantar “para não dar poder aos traficantes”. Isso me parece uma coisa bastante racional.

Acho que as drogas deveriam ser tratadas como um problema de saúde. É mais um resultado das diferenças sociais absurdas que temos. O argumento usado para o combate é sempre as conseqüências de se estar fora de si, mas vamos à realidade. O camarada que enche a cara também não pode cometer atrocidades? Quem trabalha e já viu alguma vez o filme “Um Dia Fúria”, não inveja a atitude do personagem? Então, ser subjugado incessantemente não poderia também desencadear uma série de atrocidades? A violência deste caso não se trata de estar fora de si, mas de uma questão de respeito. Saber qual o seu espaço e o do outro. Isso vai muito além do uso de droga, é educação.

Meu nome é Marcella, tenho 28 anos e sou viciada em chocolate. Sofro de dependência psíquica ao chocolate e já tive crises leves de abstinência. Quando como em demasia, a hiperglicemia me faz ter onda também, fico lerda e rio mais que hiena feliz. Nunca roubei para conseguir meu chocolate. Nunca prejudiquei ninguém sob efeito dele e o mau que ele causa, é só a mim. Devo ser presa também? A diferença entre o chocolate e a maconha não seria apenas a lei que envolve os dois?

Ainda existe a diferença entre drogas que causam letargia e as que aceleram. A maconha é das primeiras. Se o cara está letárgico, como ele vai roubar alguma coisa? Ele está muito mais preocupado em curtir a hipersensibilidade do seu corpo do que em gastar adrenalina fazendo besteira por ai. Tive a oportunidade de visitar Amsterdam, onde a maconha é liberada, e não vi problema nenhum com relação à isso.



Venda de semente de maconha no Mercado das Flores de Amsterdam



Museu da Maconha em Amsterdam



No caso específico da matéria ainda tem o agravante que o rapaz é rastafari. Isso poderia, então, ser classificado como preconceito religioso. Faz parte da religião dele usar “ganja” como uma forma de abertura espiritual exatamente pela hipersensibilidade que ela causa. Será que vão começar a perseguir o pessoal do Santo Daime também? Durante a incorporação, o médium também está “fora de si”, assim como os Dervish na Turquia e o jejum em todas as religiões também é uma forma de elevar a mente. O estado não deveria ser laico?



O transe dos Dervish em Istambul


E a cadeia? A sociedade alternativa dos excluídos sociais. O galpão de armazenamento humano. Não deveria ser um lugar de reabilitação? O modelo de prisão falhou. Não atende mais as necessidades da nossa sociedade. Se a proposta é só manter longe as pessoas que não se enquadram, por que não instituir a pena de morte? E o preconceito contra o cárcere, será que ele é realmente culpado do seu crime ou é só mais um “laranja”? Se esse é o caso, será que este prisioneiro não sairá de lá “pior” do que entrou? O caso do músico é muito atípico. Quando vejo qualquer forma de julgamento, lembro de "O Alienista", do Machado de Assis. No livro, um médico tem o poder de decidir quem será alienado ou não da cidade. O fim é supreendente e o livro, mais do que indicado! E para os loucos que quiserem entrar nesse mundo sem volta, o Foucault é leitura obrigatória. Começar pela "História da Loucura" facilita tudo.

Claro que estou apresentando só algumas questões. São só algumas provocações para pensarmos “fora da caixinha”, como se diz aqui no trabalho. Não estou fazendo apologia à drogas ou dizendo que devem ser usadas. Só acho que se um indivívuo não está associado ao tráfico, ou seja, quer fazer uso da erva que ele planta, por que é um crime? Isso tudo é digno de muita conversa, muita controvérsia e muitos chopps para acompanhar o raciocínio ou a falta dele.

*Rei, muito obrigada pela rica fonte de questionamentos que compatilhou comigo =)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Eco


Oi... oi... oi...!
Tem alguém ai... ai... ai...?
Ninguém se pronuncia. Ninguém se comunica. Ninguém opina.
Sou um ser social. Só estou aqui porque o meio me percebe, preciso de interação para existir.
Se continuar falando sozinha vou mergulhar cada vez mais fundo no processo esquizofrênico do meu próprio mundinho.
O diálogo é o adubo. Me ajudem a crescer.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Esporte e Atitude Social


Agora serei necessariamente redundante, pois muito foi dito sobre futebol e copa do mundo. A mídia lavou a alma com notícias descompromissadas e ofensas incabíveis. O povo experimentou mais um pouco da política do pão e circo e lamentou que o circo tenha ficado sem a atração principal.
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Marx disse que “a religião é o ópio do povo” e como na equação matemática do país do futebol este é igual à religião, logo virou “o futebol é o ópio do povo”. Não gosto dessa afirmação. Me parece mais uma forma de manipulação da capacidade de raciocínio humano. Apesar do denominador comum de que ambos não devem ser discutidos, as semelhanças param por ai.

Por quase toda a história da humanidade a crença foi usada como forma de controle social. As cruzadas existiram em nome de terras para o Senhor, a inquisição exorcizava demônios de camponesas e, logo após, de qualquer um que se atrevesse a pensar livremente, as atrocidades do holocausto quase dizimaram os judeus, os ciganos tiveram que migrar para fugir de perseguições... O que não se aprende é que basicamente todas estas perseguições aconteceram em nome de apenas uma divindade: O Poder.

Nas cruzadas, a associação entre clérigos e monarcas por poder, fazia com que a igreja pregasse que o rei era o representante direto de Deus, ou seja, vá à guerra e consiga terras para expandir o poder do seu rei. O livro “Textos da Fogueira” interpreta a caça às bruxas como uma forma de manter a influência patriarcal numa sociedade onde os homens foram mortos nas guerras. Essa análise alternativa da inquisição parece bastante consistente. Como era economicamente viável torturar e assassinar milhares de pessoas por uma causa “divina”, a prática foi estendida aos homens e qualquer pessoa que fosse contra os interesses da classe dominante. Em linhas gerais, os judeus foram perseguidos por participar da burguesia em plena depressão econômica alemã. Os ciganos ocupavam terras que continham riquezas.

Não creio que o futebol seja usado com esse fim. Sim, até já foi! Durante a ditadura mesmo o ele foi usado como um artifício para divulgar amplificadamente o que os favoráveis chamaram “milagre brasileiro”, mas, atualmente, creio que ele seja uma diversão para grande parte da nação. É uma forma de aliviar a tensão – ou realidade social, como preferirem. Não nego os excessos de alguns torcedores, falo considerando a maioria. Saber que uma criança pobre pode chegar a ser alguém é reconfortante no nosso contexto e é essa esperança que o povo precisa. Caso haja dúvida sobre o efeito do esporte na sociedade, o filme "Invictus" mostra questões muito interessantes à respeito do assunto.


Um país pensante consegue absorver mais de uma informação por vez. Talvez ainda não seja esse o nosso caso, mas a copa do mundo é um evento importante sim e deve ter atenção sim. Peço apenas que não guardem as camisas da seleção canarinho. O Brasil foi desclassificado no campeonato, mas está crescendo na política. Já lamentamos o fato e agora guardemos nossas energias, bandeiras e camisas para as eleições de outubro. Vamos dançar a haka* para afastar o passado de subdesenvolvimento e olho vivo!




Invictus
Autor: William E Henley
Tradutor: André C S Masini

Do fundo desta noite que persiste

A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.
Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.
Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.
Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

Copyright © André C S Masini, 2000
Todos os direitos reservados.
Tradução publicada originalmenteno livro "Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa"

* Haka é um tipo de dança aborígene usada pelos All Blacks, time de rugby neozelandês, para intimidar seus adversários antes de partidas importantes.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Memórias da Zona Oeste

O Camping, o sítio e o clube em Vargem Grande


É interessante perceber como paisagens, aromas e outras coisas podem nos levar no tempo até situações remotas. O cheio de mato, por exemplo, me lembra a adolescência. Boa fase! Começou com as longas e prazerosas férias em Vargem Grande, depois se urbanizou e a sensação que tenho muitas vezes é que se estende até hoje através dos amigos conservados.

As aventuras em Vargem Grande eram as melhores! Andar de bicicleta na lama, subir até a piscina do sítio pela cachoeira, conversar no galpão até tarde, jogar sinuca, volei, tomar banho na ducha, colher goiaba, ir à praia com os primos... tudo era ótimo! As melhores situações insistem na minha fraca memória.

Uma delas era sair todo mundo junto de bicicleta pela estrada de terra batida até chegar à pista de MotoCross, passar por toda aquela lama e continuar até o templo budista que tinha um grande jardim de coqueiros enfileirados, cortado por um riacho com pontes vermelhas e lírios amarelos na margem. Parecia delírio onírico. Ficávamos deitados na grama buscando coragem para entrar no templo que nunca entrei. Culpa dos contos assustadores que rondavam o local. Na volta, uma mega bronca pelas horas desaparecidos e o banho coletivo com bicicleta e tudo para tirar a lama na ducha. Também terminou assim o episódio da guerra de lama com todos os primos. Memória mais remota, mas que se faz presente.


Os coqueiros do templo e a pista de motocross respectivamente

Outra, foi a vez que, ao contrário das orientações da minha mãe, fomos para a estrada que passavam carros. Como toda desobediência tem seu preço, o meu foi ficar sem freio entre um carro e uma vala. Substituir a ausência com o pé e fui salva de mergulho no esgoto e um atropelamento por algumas dezenas de centímetros. O óculos não perdoou, deixou uma cicatriz no supercílio que ainda carrego. O dono da venda não sabia se me ajudava ou ficava com medo da bronca que meu pai daria ao saber do acontecido. Na volta, a procissão carregando as bikes e os amigos lamentavam imputando a culpa em si. Não permiti, meus pais haviam ensinado sobre responsabilidade e que não deveria ouvir nada senão a voz da consciência de um adolescente: a mãe.

Com o tempo, passei a acampar sozinha. A viagem de ônibus até lá sem linha amarela já era uma aventura. Me acompanhavam um walkman, fitas k7 gravadas de rádio rebobinadas à caneta Bic e uma pequena mochila. Acabava que todos iam para minha barraca. Ficávamos bebendo e falando besteiras a noite inteira. Talvez o início da vida na chacota. Dessas pequenas alegrias me resta o Bruno como uma grande amizade.

Mudar de escola e fazer novos amigos urbanizou mais a vida social. Conheci meus meninos, os mesmos de hoje. A maioria deles tinha banda e organizávamos festinhas para que eles tivessem onde se apresentar. Chegamos a ganhar algum dinheiro com isso. Depois das noites grunges no Black Night, o MHS era o lugar que eu mais gostava que eles tocassem. Era uma casa antiga no interior de Jacarepaguá, lá pela Taquara, eu acho. Era tão longe que dizíamos que a viagem durava três dias a cavalo do próximo feudo. Tinha uma piscina na frente usada como pista de skate e o quintal gramado enorme com um palco no meio e um bar na varanda. Me sentia bem lá. O dia memorável foi quando uma das bandas de amigos conseguiu colocar fogo no amplificador.

As festas no casarão da Praça Seca também eram ótimas! A falta de luz provocava um “climão” no lugar com as velas que ficavam espalhadas. Uma gambiarra com extensão ligava os instrumentos musicais. Os cômodos tinham buracos nas paredes pichadas usados como passagem. A melhor definição é “festa estranha com gente esquisita” e eu era uma delas, feliz!

Talvez seja importante vivenciar situações díspares para conhecer a tolerância. Minha irmã diz que meus pais foram mais permissivos comigo, mas não é verdade. Não fiz um terço do que queria e se tivesse feito, talvez não tivesse sido bom para mim. Eles faziam cortes cirúrgicos entre o permitir e o negar. Vejo a angústia de algumas amigas com a dificuldade de educar seus filhos e não sei como será na minha vez. Acho que vou querer ir junto para curtir também, como convido meus pais à participar.

Toda essa diversidade gerou uma dúvida. Cresci no mato, na praia e na cidade. Todos parecem apetitosos e não sei qual destino escolher.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Névoa

Ontem o dia amanheceu com efeito especial. A névoa densa deixou tudo esbranquiçado. A noite anterior de insônia não me deixou aproveitar o percurso, que voltou a ser feito de ônibus, mas ao chegar ao Centro, foi bonito ver os jardins branquinhos. As casas coloridas da Lapa estavam acinzentadas e o frio cortava a carne como fim de tarde em Edimburgo ou manhã bem cedo em Porto Alegre.

Ao contrário da música Teatro dos Vampiros, gosto desses dias tão estranhos. Gosto de ver o azul do mar unindo-se ao do céu, o Cristo na imensidão azul, mas o inverno me atrai. Sempre atraiu. Os fins de tarde lilases, o início da noite roxa, a manhã cinza... são cores diferentes, lembranças diferentes... Formas diferentes de ver a mesma coisa. O diferente não é feio, só precisa ser conhecido.

A manhã avermelhada também deve ser contemplada. Lembro do Legolas: “O céu está vermelho. Sangue foi derramado esta noite”. No Rio, sempre é derramado sangue na noite anterior. O que era raro como um dilúvio em abril, agora é tão comum quanto o calor do verão e, muitas vezes, é de lá que vem o sangue derramado.

As plantas são um show a parte. As folhas amarelas caem e ocultam as cutias no Campo de Santana. Os ipês florescem rosados. Um parque Holandês? Não, não tem tulipas. É só o Rio de Janeiro com paisagem diferente, mas ainda é o Rio que tenta sobreviver aos maus tratos. Como uma criança que sofre violência e ainda consegue sorrir, a natureza nos mostra que vale a pena resguardá-la.

As músicas Senhas, da Adriana Calcanhoto e Beauty of Gray
, do Live, são boas companhias nesse momento.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Língua do P


Há muito tempo atrás uma mocinha caminhava pelo shopping com sua mãe quando viu uma promoção de calças jeans. Muito animada, a mocinha resolveu entrar na loja. A vendedora, muito simpática, mostrou-lhe uma das calças que havia em uma cesta. Ao desdobrar a calça, parecia que abrira um livro de tão pequenino que era o modelito. Encafifada, a mocinha se pronuncia:
- Não brinco mais de boneca, é para mim mesmo. Tem maior?
E como resposta recebe:
- Não, o maior número é o 34.

Este pequeno e assustador conto poderia ser usado para cativar criancinhas na hora de dormir, mas aconteceu de verdade com esta que vos escreve. E ainda continuo intrigada. Como um adulto saudável pode vestir 34??? Ainda mais no Brasil onde a bunda impera!

Sei que estou acima do peso e até que nem tenho problemas com isso, mas é na hora da compra que lamento meus abusos. Não tenho paciência de procurar e escolher e experimentar roupas. E tudo piora (muito!) quando a pobre vendedora pergunta “qual o seu tamanho?”. Impossível responder essa pergunta! Em casa, tenho roupas que vão do 42 ao 48. Depende da confecção, do tecido, do corte, da hora, do dia, do humor da vendedora, do meu humor... da teoria da relatividade!!! Os sapatos eram mais padronizados, sempre soube que calçava 37, mas já comprei sapato 36 e 39 (?). Queria entender essa métrica. Como um 42 pode te vestir em uma loja e um 48 em outra?

As blusas eram muito mais fáceis de achar. A anatomia frontal é mais fácil de adaptar que as traseiras. Até porque, tem menos opções de tamanho: P, M ou G. Tinham, meus caros! Tinham! Agora, muito facilmente achará um PP em uma loja de departamentos e não muito distante dela, verá um XP e o G de antes socializou-se, ganhou um amigo no último restaurante, virou GG e, adivinha? Ele está em um bar, restaurante, pizzaria... nunca em uma loja de roupas!

Assumo que na última vez que tentei comprar uma calça e casaco, fiquei bastante frustrada. Será que estou mesmo tão gorda assim? Passei a observar as pessoas na rua. São de todos os tipos. Amém! Mas tem muita gente como eu por ai, e muitas maiores. Como diz o Morrissey, “some girls are bigger than others”. Poxa, que ditadura é essa? Onde essas pessoas se vestem? É algum tipo de influência maligna para que os gordinhos andem nus por ai? Se a regra é que todos tenham corpos que caibam nesses malditos modelitos P’s para exibi-los por ai, deveriam fazer só roupas grandes. Deixem os G’s bem vestidos e os P’s exibindo seus corpos esbeltos. Ora, pois!

O incrível é que o preço é inversamente proporcional ao tamanho da roupa. Como pode um biquíni custar R$ 120? Não tem nem um metro de tecido! Aline, a amiga estilista, deve estar me xingando a essa altura, mas não me refiro a grifes. Entendo que essas não são roupas, são quase obras de arte e custam como tal – agora é a amiga Kel que ri lembrando de nossa discussão no Calabouço (rs). Me refiro à lojas de departamento mesmo! Quando foi que aquela mais famosa do moço careca virou alta costura com comerciais de personagens internacionais? Lembro que detestava ganhar aquela caixinha branca nos meus aniversários! A “de mulher para mulher” agora veste homens também. É tendência, como muitos amigos dizem, mas de onde sai o dinheiro? Várias vezes fui julgada pelas minhas roupas (não pelos amigos, lógico!) e justifico que preferi investir na minha educação. Posso não me vestir bem, mas tenho um diploma, um carro, uma casa e contas em dia. Tudo para um bom crediário. Tive que escolher, não deu para fazer os dois. O povo reclama que paga de 20 à 40% de seu salário em impostos, mas uma roupa completa pode custar em média 25% do salário mínimo! (Blusa R$30, calça R$70, sapato R$30 = R$130) Não que ache certo gastar tanto em impostos - não sem o retorno necessário - mas me parece uma questão de prioridade: o curso de francês para o mestrado ou uma roupa por mês?

Como digo sempre, não julgo ninguém. Quem sou eu para fazer isso? (Ultimamente, então! A “faz merdinha da estrela” está de pilha alcalina nova) Mas acho que as coisas precisam ser pensadas. Também tenho meus delírios de consumo, como a Becky Bloom no filme homônimo, mas é importante saber quem controla quem. Novamente a tal diferença entre querer e precisar que tanto falo. Ninguém pode ser julgado por querer alguma coisa, mas deve ser orientado ao pensar que precisa de alguma coisa supérflua. Um dia conto aqui sobre a minha camisa do Flamengo...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Em Uma Galáxia Muito Distante


Acabei de passar a manhã inteira falando com máquinas! Como chegamos à isso? Onde a tecnologia vai nos levar?

Acordei agradecendo à TV pela feliz notícia da aprovação do aumento dos aposentados. Depois briguei veementemente com ela pela notícia, visivelmente manipulada, do fechamento do Banco Federal da Venezuela. Vim para o trabalho na companhia do rádio e cheguei
disposta à executar duas tarefas simples: marcar um exame e reservar uma sala para a reunião de sexta-feira (Eu mereço? Provavelmente sim!). O que parecia simples se tornou o pesadelo de uma manhã inteira.

À princípio, para o exame, falei com dois call centers. Em um dos laboratórios, a atendente só teria disponibilidade de marcar um exame de mapeamento cardíaco para o dia 21 de julho (o.O). Se a atuação do Brasil na copa não me causar um infarto até lá, os gols sem ângulo do Maicon vão! Tentei o segundo. Bem mais simples, mas como seria um encaixe, a atendente me pediu para contatar pessoalmente o plano de saúde para pedir uma senha de autorização. Fiz o solicitado. O atendente do plano praticamente riu dizendo que o laboratório é quem deveria fazer o pedido. Questionei e ele foi ríspido! Respirei fundo, não quero me irritar hoje. Mais tarde vou comer japonês, ver meus amigos e ouvir rock, não combina. Paciente ou ironicamente, disse a ele que iria recomeçar para que a gente pudesse se entender. Ele entrou no clima. Fui para o meu quarto Call Center do dia (o mesmo que o segundo) depois de duas tentativas onde o tempo de espera é inversamente proporcional à sua paciência, consegui um bom atendimento no terceiro. A menina, muito atenciosa, com um pedido de desculpas pela informação anterior equivocada, resolveu meu problema. Contabilizando: 6 ligações para Call Centers.

Segundo problema a ser resolvido: a reserva da sala de reunião. Incrivelmente, é necessário abrir um chamado de TI para usar uma sala que fica à 10 metros de onde trabalho. Deveria ser simples assim. Call Center 1: “Não é aqui, senhora. Ligue para...”. Call Center 2: “Para esta reserva, ligue...”. Call Center 3: “O número certo é...” O PRIMEIRO NÚMERO QUE EU LIGUEI!!! Parece piada, né? Desisti. Como disse, não quero me irritar, não vale a pena. Aliás, mudei o objetivo do meu dia. Meu objetivo agora é conseguir manter a calma. Não vale a pena, é por pouco tempo. Tudo vai passar e fazer mais sentido.

Sabe qual o mais interessante nessa jornada de conversas com máquinas e músicas de espera? Não tinha nenhuma opção de reserva de sala nos menus ou sub-menus que liguei! Em todos eles tive que informar meu nome completo, ID, telefone... Para quê? Receber um e-mail no fim de tudo dizendo que o chamado encontra-se miraculosamente SOLUCIONADO!! O chamado sim, meu problema não!

Quem já estudou basicamente matemática sabe que nas ciências exatas existem várias formas de alcançar o resultado, mas apenas uma resposta. A máquina não pensa. Se for oferecido um problema que ela não está programada para resolver, ela vai te ignorar e entrar em loop, ou colapso, se preferir, te levando diretamente para o início de todo o problema. Assim como em o Mágico de Oz, As Crônicas de Nárnia e tantos outros filmes, você volta ao início como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu! Você teve uma experiência terrível que te ofereceu algum grande aprendizado.
No meu caso foram dois. (a) Seja muito educado com os atendentes. Eles têm o poder de te jogar no olho do furacão. (b) NUNCA CONFIE NAS MÁQUINAS (!). Anakin Skywalker tinha um robô como melhor amigo e veja no que deu.

Tudo bem, não queria fazer a reunião mesmo...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Another Brick In The Wall



Reproduzo aqui mais um argumento para aqueles que pensam ser a ditadura um assunto do passado. Ao contrário, está no nosso presente e, se não houver uma atitude, vai permanecer em nosso futuro sendo propagado por instituições que servem às relações de poder.
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Leia ouvindo "Another Brick In The Wall" do Pink Floyd ou a versão do Class of' 99, minha preferida.
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LIVRO DO EXÉRCITO ENSINA A LOUVAR DITADURA
Colégio militar usa material de história com perfil diferente do indicado pelo MEC
Por Angela Pinho de Brasília
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A história oficial contada aos alunos dos 12 colégios militares do país omite a tortura praticada na ditadura e ensina que o golpe ocorrido em 1964 foi uma revolução democrática; a censura à imprensa, necessária para o progresso; e as cassações políticas, uma resposta à intransigência da oposição.
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É isso que está no livro didático "História do Brasil -Império e República", utilizado pelos estudantes do 7º ano (antiga 6ª série) das escolas mantidas com recursos públicos pelo Exército.
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Nelas, estudam 14 mil alunos, entre filhos de militares transferidos ou de civis aprovados em concorridos vestibulinhos. De cada aluno é cobrada uma taxa mensal de R$ 143 a R$ 160, da qual estão isentos os que não podem pagar. Mas 80% das despesas são custeadas pelo Exército.
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As escolas militares poderiam utilizar livros gratuitos cedidos pelo Ministério da Educação a todas as escolas públicas. Mas, para a disciplina de história, optaram pela obra editada pela Bibliex (Biblioteca do Exército), que deve ser adquirida pelos próprios alunos. Na internet, o preço é R$ 50, mais um caderno de exercícios a R$ 20. O Exército afirma que o material "atende adequadamente às necessidades do ensino de História no Sistema Colégio Militar".
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O livro de história mais adquirido pelo MEC para o ensino fundamental, da editora Moderna, apresenta a tomada do poder pelos militares como um golpe, uma reação da direita às reformas propostas por João Goulart (1961-64). A partir disso, diz a obra, seguiu-se um período de arbítrio, com tortura e desaparecimentos, em que a esquerda recorreu à luta armada para se manifestar contra o regime.
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Já a obra da Bibliex narra uma história diferente: Goulart cooperava com os interesses do Partido Comunista, que já havia se infiltrado na Igreja Católica e nas universidades.
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Do outro lado, as Forças Armadas, por seu "espírito democrático", eram a maior resistência às "investidas subversivas".
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No caderno de exercícios, uma questão resume a ideia. Qual foi o objetivo da tomada do poder pelos militares? Resposta: "combater a inflação, a corrupção e a comunização do país".
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TORTURA
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A obra não faz menção à tortura e ao desaparecimento de opositores ao regime militar. Cita apenas as ações da esquerda: "A atuação de grupos subversivos, além de perturbar a ordem pública, vitimou numerosas pessoas, que perderam a vida em assaltos a bancos, ataques a quartéis e postos policiais e em sequestros".
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A censura é justificada: "Nos governos militares, em particular na gestão do presidente Médici [Emílio Garrastazu, 1969-1974], houve a censura dos meios de comunicação e o combate e eliminação das guerrilhas, urbana e rural, porque a preservação da ordem pública era condição necessária ao progresso do país."
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As cassações políticas são atribuídas à oposição do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). "Embora o governo pregasse o retorno à normalidade democrática, a intransigência do partido oposicionista motivou a necessidade de algumas cassações políticas", diz trecho sobre o governo Ernesto Geisel (1974-79).
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Para o historiador Carlos Fico, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o livro usado nos colégios militares é problemático tanto do ponto de vista das informações que contém como pela forma como conta a história.
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"O principal motivo do golpe foi o incômodo causado pela possibilidade de que setores populares tivessem uma série de conquistas."
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Mas, para Fico, mais grave ainda é a forma como o livro narra o período, com uma "história factual" carente de análise, focada apenas na ação dos governos. "Trata-se de uma modalidade desprezada inclusive pelos bons historiadores conservadores" , avalia.
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O mais interessante é perceber a fonte da notícia. Busquei o texto na internet em sua fonte original, a Folha de São Paulo, mas consta em conteúdo restrito para assinantes. Pude encontrar o texto na íntegra no site da Força Aérea Brasileira (FAB) como matérias relevantes à instituição, ou seja, a mídia ainda está sendo observada e de perto. Segue abaixo o link.

http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=13/06/2010&page=mostra_notimpol

Sem conhecimento em didática talvez seja difícil ensinar História do Brasil para crianças e adolescentes próximos à nós, mas todo mundo gosta de uma boa estória. Uma saída seria trazer o contato com a realidade objetiva para as fantasias infantis. O período da ditadura foi uma aventura com heróis, vilões e sonhos, componentes de qualquer bom conto infantil. A subversão, contestação e repressão podem envolver adolescentes e fazê-los se interessar pelo assunto.
Fica a dica...