quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Ah, que saudade de um continho só meu! Há muito tempo não recorro a este espaço. Que bom que ele ainda está aqui. Fico feliz. A vida não tem sido uma aventura, apenas o cotidiano. Por isso a ausência. As experiências estavam tão isoladas na minha própria perspectiva que não valia a pena compartilhar. Agora as coisas mudaram. No dia 31/12/2014 descobri que estava grávida. A notícia surpreendeu, não era hora, ainda haviam muitos planos para serem realizados antes da doação que um bebê precisa – inclusive a financeira -, mas foi recebida com alegria. Para ser sincera, era uma vontade íntima de ambos, meu marido e eu. Hoje meu bebê, o Ernesto, tem 2 meses. O cotidiano voltou a ser uma aventura na minha vida e, por isso, retorno à este espaço. Ser mãe é estar na berlinda. Por mais que eu sempre tenha sido fora da regra, nunca me senti tão vigiada, tão julgada quanto me sinto agora. Talvez pela vontade de acertar com ele, mas essa é a questão, o que é acertar? No mesmo dia que soube que estava grávida, recebi a primeira porrada. Sou muito apegada a minha cachorrinha e ouvi que “agora você vai ter que se afastar da Sofia para ela não ficar com ciúme do bebê”. O QUÊ???? Indignação foi pouco. Como alguém sugere que eu vá ter que me afastar da minha filha? E ainda mais por um motivo desses? Se ela fosse um ser humano, será que também iam sugerir que eu me afastasse para que não ficasse com ciúmes do irmão mais novo? Mesmo sabendo que eu não ia me afastar dela, a relação deles foi uma preocupação durante a gestação e me preocupei a toa.
Ela cheirou ele e nem ligou. Ficou tão feliz de eu estar de volta em casa depois da internação para o parto que nem queria saber de nada. Nos momentos seguintes a curiosidade bateu. Ela cheirou ele e deitou perto. É o que ela faz todos os dias nesses 2 meses. Rolou até uma lambidela no pé dele. Minha preocupação é que ele machuque ela quando começar a querer agarrar as coisas. Bom, essa foi só a primeira de todas as asneiras que ouvi – e continuo ouvindo -, mal sabia eu que viriam muitas outras mais. A questão é que, a vigilância na vida alheia já é regra na sociedade de hoje, infelizmente, mas quando a coisa envolve criança, fica muito mais sério! As pessoas se acham no direito de interferir, na verdade, elas se sentem na obrigação. É como se elas sentissem a necessidade de proteger e informar como se isso fosse necessário. Lembro daquele comercial que tinham os macaquinhos que dizia para as pessoas não se calarem, prestarem atenção e denunciarem. Gente, isso é em caso de abuso! E é fundamental termos certeza de que se trata mesmo de abuso antes de denunciar, isso mexe com a vida das pessoas de uma forma muito profunda. É mais! É preciso saber se aquela mãe quer ser orientada sobre a situação dela. Junto com a barriga aparecem milhões de videntes determinando como será sua vida, sua rotina, sua relação com seu bebê, com seu marido, com seus pais, com sua vida social, seu trabalho... Gente, deixem as relações se construírem livremente. Eu, por exemplo, optei por não saber muita coisa, preferi o não saber para saber com ele. Não me importam as experiências de outras pessoas para construir minha relação com meu filho. Prefiro errar com ele do que me limitar na experiência do outro. É preciso respeitar as mães em suas escolhas. Escutamos tantas críticas às mães que deixam seus filhos com outras pessoas para se divertirem constantemente ou aquela que o coloca cedo na creche por mil motivos. Será que nunca ninguém parou para pensar que esta mãe pode ter desistido por não se encaixar num perfil pré-moldado a qual a impuseram? Talvez ela tenha se esforçado tanto em ser a mãe que a sociedade pinta, que se sentiu falha, derrotada. Somos impiedosos com as mães! O sentimento de incapacidade é praticamente intrínseco à maternidade. Essa estória de instinto materno, de que quando nasce um bebê nasce também uma mãe, é pura balela social. TODA MÃE, independente de etnia, classe social, idade, sexo etc. Se sente frustrada e incapaz diante dos primeiros choros do seu bebê. Pelo menos dos primeiros! A reação natural é dar o peito, mas, se o bebê não chora de fome, já era! Insegurança, incerteza, impotência... Tudo vai perturbar o juízo dessa mãe. E aí, cadê o instinto materno? Não era para o manual estar todo dentro da caixola dela e saltar involuntariamente diante das adversidades? Não, não é assim que a banda toca. A gente vai aprendendo a ser mãe desde pequena. Esses registros saltam na hora do aperto, mas e se surge uma situação nova? Já não temos responsabilidade suficiente em ter que manter aquele ser vivo tão indefeso e dependente em boas condições para ter que acumular julgamentos como carga? Por favor, antes de enfiar suas experiências goela abaixo em uma mãe, pergunte se ela quer isso. Por hoje é só, mas tem muito mais entalado aqui, muito!