quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ética



Lembro que minhas aulas de Ética na faculdade eram complicadíssimas. Por mais paciência e qualidade de transmissão de conhecimento que tivesse a professora Eulina, não conseguia muito sucesso, pelo menos comigo. Passei nas provas, mas só fui entender o que é Ética com o tempo.

Algumas questões vêm sendo recorrentes em meus pensamentos. Resultado de uma mistureba cultural que fiz nas últimas semanas. Tenho lido Foucault, vi documentários sobre a vida de Che Guevara, viajei e vi Arquivo X. Lógico que o resultado foi confuso, mas confortante.

Minha identificação com a Análise Institucional, como já citei em um tópico não muito distante, se dá pela relativização que ela concebe. Tudo será analisado por diversos prismas, atravessado por conceitos que muitas vezes não passam tão próximos de nossa percepção e por um observador que, por mais que tente ser imparcial, está inserido naquele contexto, interfere e é interferido polo mesmo.

É meio desesperador ver a coisa dessa forma porque não há uma verdade. O máximo que se encontra é uma sequência de fatos descritos de forma parcial. Hoje entendo a frase "a verdade está lá fora" na abertura de Arquivo X. Se o relato fosse observado pela visão do Mulder, havia uma grande conspiração. Pelos fatos e provas apresentados, não. Nossa leitura da relação com a Scully podia dizer uma coisa que nunca foi explicitada na série. Fato que só quem pode dizer a verdade sobre a série é seu criador. Nunca soubemos se existiam mesmo os aliens ou se o Mulder estava alucinando (considerando só a série, não os filmes).

Para quem acredita em forças superiores ou destino, assim como na série, na vida real o criador também não explica a verdade, deixa tudo à nosso critério e nosso critério é contaminado por nossas experiências anteriores, é tendencioso.

Se não há verdade, o que buscamos? Ora, cada um busca aquilo que deseja. A vida de Che Guevara é muito rica (também nesse aspecto) para ilustrar uma busca. Filho de família de classe média, tinha seus altos e baixos financeiros. Mudaram-se diversas vezes, algumas por conta da asma que o acompanhou até o último dia de vida - alguns dizem que foi o motivo principal de sua captura. Fez faculdade de medicina, jogou rugby e decidiu viajar. Mais até do que na educação libertária que recebeu da mãe, com quem teve vínculo muito forte, Che viu em suas viagens muitas teorias que preenchiam seus livros. A pobreza e a desigualdade social incitaram-no à buscar condições melhores de vida, não apenas para si, mas para todos. A amizade com Fidel viabilizou sua busca.

O relato da vida de Che me parece pertinente à essa altura dos devaneios para elucidar sua morte. Che morreu. Era de carne, osso e fraquezas, como todos nós, mas o que o torna especial? Por que é lembrado até hoje em todo mundo? Ele buscou! Abdicou de tanta coisa e persistiu em sua busca até a morte. Não foi o primeiro rebelde que existiu e espero que não tenha sido o último.

Gostaria muito de poder dizer agora que todos devemos fazer como Che e buscar um bem comum, mas não me proponho tal façanha. Na verdade, não espero tal atitude. Seria ingenuidade, mas me permito pensar que todos buscam um bem, mesmo que para si. Aí entra a Ética! Até onde um bem para si deve transpor o bem do outro? Devemos abdicar do respeito na busca pelo bem? A questão talvez não seja "o que buscamos" e sim "como buscamos".

Se o ser humano é falível, talvez buscar por si só seja suficiente. Buscar uma forma ética de viver pelo bem e com respeito já seria uma diferença grande de comportamento no meio da multidão. Alguns percalços no caminho podem causar deslizes de conduta, mas, particularmente, não acredito nesse papo que "de boas intenções o inferno está cheio". Acho que é a Terra que está cheia de infernos! Tentar desviar deles já é um passo a mais na caminhada. Não justifica os deslizes, mas é uma forma reconfortante de conviver com a culpa pelas más decisões e fraquezas. Mas quem disse que deslizes devem ser justificados? Lamentamos, levantamos a cabeça, continuamos andando e aprendendo a evitar os próximos.
Viajar é uma boa forma de praticar tudo isso. O conato com outras culturas e consciências faz com que percebamos prismas diferentes dos nossos e estar imerso em outra realidade objetiva pode soltar um pouco as amarras e nos permitir experimentar situações inesperadas que nos levam ao conhecimento de si, dos outros e das coisas.

Duas outras fontes me inspiraram ao escrever este texto: o filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança" e a música "I Got Id", do Pearl Jam. No filme uma empresa desenvolve uma máquina qua apaga todas as memórias que você quiser. O protagonista decide apagar os registros de um relacionamento findado e se arrepende durante o procedimento, quando percebe que vale mais lembrar de uma experiência ruim do que não ter esta memória. Até porque os bons momentos são as lembranças mais fortes. Em "I Got Id", letra e música falam sobre as dificuldades dos caminhos das buscas. Bom. essa é a minha verdade sobre o filme e a música...

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