sábado, 14 de agosto de 2010

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Ontem tive o primeiro contato com meu futuro... gostei muito!! Dois professores fizeram a gentileza de me aceitar como aluna ouvinte na disciplina de mestrado "Perspectivas Democráticas da Formação Humana", minha cara! Mais ainda porque a bibliografia é repleta de Foucault.

A aula foi ótima! A turma participativa em forma de círculo colaborava com as colocações dos professores sem falácias. Sim, teve um momento inesperado onde uma das alunas abordou a característica dicotômica dos sujeitos. Até aí, tudo bem, mas ela começou a falar sobre "bem" e "mal". Quem lê Foucault sabe que esses conceitos platônicos, mais do que dispensáveis, são inaceitáveis nos estudos perspectivistas onde, como o nome diz, tudo será interpretado conforme determinado olhar. A professora mudou a expressão na hora e se contorceu na cadeira até conseguir esclarecer as coisas. Tudo bem, estamos todos aqui para aprender. Confesso que fiquei muito feliz em acompanhar as discussões e fazer ressalvas em uma turma mista de mestrado e doutorado.

Egocentrismos à parte, o que me chamou a atenção foi uma frase dita por uma colega. Em uma colocação sobre as perspectivas diferentes que as classes sociais criam, uma pessoa falou "tem família tão pobre que nem televisão tem". Que frase rica!!! Vejam o poder que a televisão exerce em nossas vidas! O que antes foi símbolo de status, hoje se apresenta como necessidade básica. O custo de mercado é tão acessível que causa espanto uma família que não tem uma dessas em casa. E agora não basta ter tv, tem que ser de plasma 32" pelo menos! A população tem poder de compra e os carnês esrtão ai pra isso.

Agora me permito uma catarse. Redundantemente, uma catarse catártica mesmo, só para dar ênfase! O mesmo acontece com os carros. Alguém já percebeu como as pessoas tem compado carros caríssimos? Quantos 0km se vê pelas ruas atualmente? Até onde sei, a função dos carros é a mesma, andar. Mas não basta ser carro, tem que ser novo. Com isso, um popular custa na média R$25mil. POPULAR??? Sim, as pessoas não podem, mas estão pagando por isso. Os celulares estão no mesmo caminho... coisas do capitalismo.

Voltando à televisão, me pergunto: e se a família não quiser tê-la? Será que é tão vital dar boa noite para o casal das nove horas? Aprender um italiano tosco... Não posso falar por mim, não é o meu caso. Gosto de tv. Adoro assitir filmes, documentários e séries. Dois em especial até me fazem ir para casa em determinado horário. São elas True Blood e Bones, assumo, mas não me sinto prisioneira e consigo imaginar minha vida sem o aparelhinho do mal.

Fora desse contexto mega naturalizado, tenho alguns amigos que não tem tv em casa. São pessoas felizes, inteligentes e atualizadas - muito mais do que eu, que tenho e me isolei das notícias propositalmente. Uma vez, em um programa de decoração, um arquiteto criticava a mania brasileira de arrumar a sala colocando a tv como objeto principal e todas as outras coisas em volta. Pode olhar, tenho certeza que a sua também é assim.

Sendo assim, meus comentários não se dirigem à tv propriamente dita, mas a importância que damos a ela ao ponto de muitas vezes não questionar a forma como a mesma se apresenta ou as coisas que ela institui para gente como verdade, comportamento, atitude...

Tenho certeza que boa parte das frases e idéias que usamos vem do tal aparelhinho fundamental, dono de nossas salas. Uma vez, argumentei em uma aula da pós que o Marketing é a ciência do capeta. Claro que estava exagerando, mas que a tv está ao seus serviços... ah, isso eu acredito!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A-ha! U-hu! Vou comer seu bolo!


Detesto filme romântico! Fiz a grande besteira de tentar ver um deles hoje. Há alguns meses, precisei dar um tempo da leitura técnica e comecei a ler o "Ele Não Está Tão Afim de Você" para desanuviar a mente. Descobri duas coisas: 1. O livro é horrível; 2. Desanuviar a mente é quase impossível.
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Acho feio isso de tentar fazer receita de bolo para tudo, se nem para fazer bolo, receita serve. Minha avó faz os melhores bolos do mundo e não usa receita, nunca usou, faz o bolo com o que tem. Se não tem margarina, ela usa óleo, se não tem três ovos, ela usa dois, não usa batedeira e sempre dá certo. Por que então usar receita para relacionamento? Logo relacionamento! Existe coisa mais complicada do que isso? Talvez por não usar receita, ela tenha ficado casada por sessenta anos e feliz.
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No filme uma das mocinhas fala sobre os sinais que acontecem no período "pré-relacionamento". Aquela fase mais chata de todas onde não se sabe o que fazer, falar... o frio na barriga e o nó na garganta pioram tudo e buscam-se as receitas. Ela faz leituras ensandecidas sobre o que cada ação do mocinho quer dizer quando, na verdade, não querem dizer nada. Andei pensando sobre esse tipo de comportamento e, infelizmente, hoje ele é meio que preciso, pois temos a necessidade de nos preservar e não nos expor às situações constrangedoras. É assim que nos colocamos a mercê das entrelinhas, do subentendido.
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Psicanaliticamente, poderíamos dizer que este comportamento é produto da nossa vontade mais íntima de querer se relacionar com a influência social de que temos ser sempre superiores em nossas relações. Ou o contrário, nosso desejo mais profundo de sermos superiores com a necessidade social de se relacionar, depende do contexto de cada um - apesar de achar que nossos desejos mais íntimos também são frutos do meio. De qualquer forma, a pergunta é: quem disse isso? Por que temos que ser superiores em tudo?
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O fato de querer relacionar-se não é o foco desta argumentação. Deveria ser uma opção de cada um. As relações de poder que permeiam este envolvimento é que me intrigam. Até onde sei, em um relcionamento são necessários sempre dois (mesmo que sejam duas coisas, não necessariamente seres humanos. Não! Não estou falando de panssexualismo nem, muito menos, de zoofilia! =p). Então questiono, por que o indivíduo se dispõe a entrar num relacionamento se ele não está disposto à partilhar nada?
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Se expor nesse mundo estranho que a gente vive pode não parecer a opção mais esperta, mas, nesse caso (na verdade acredito que em todos os outros também), ser espontâneo não seria uma opção melhor? É mais simples, gasta-se menos energia e tempo. Não vejo sentido em toda aquela menipulação de sentimentos e opiniões para começar uma coisa que está fadada, no minimo, à uma insatisfação porque o "contrato" feito anteriormente entre as partes não pode ser cumprido por falta de autenticidade.
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Mas o que detesto mesmo nesse tipo de filme é o final previsível onde tudo sempre dá certo. Isso sim é ficção, imaginar que tudo sempre acontece como o esperado. Por mais otimista que se precise ser, o bolo às vezes sola e se isso aconteceu, verifique onde errou e tente novamente, mas lembre-se que bolo solado também pode ser gostoso. É só saber aproveitá-lo.
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