segunda-feira, 31 de maio de 2010

I Still Alive


Não sei o porquê, mas às vezes dou uma olhada nos tópicos das comunidades que participo. Falta de paciência para fazer todas as outras coisas que preciso, talvez. O fato é que li uma coisa intrigante ontem numa comunidade grunge. Uma menina, adolescente acredito, reclamava que queria seguir a filosofia grunge, mas tinha problema com seus pais repressores. Como resposta outra menina, aparentemente um pouco mais velha, contava que havia passado pelo mesmo problema, mas que seu noivo a tinha ajudado a ser ela mesma.

Fiquei confusa com tais informações. Começando pelo mais simples, pensei que sermos nós mesmos deveria ser algo que partisse de dentro. Como ser nós mesmos através de outro? Lacan pode usar a fase do espelho para explicar isso. Uma análise superficial da Psicologia poderia dizer que, se somos através do outro, o noivo fez este papel. Como, particularmente, a Análise Institucional parece mais abrangente às questões que envolvem um problema digo que o “eu mesma” não existe, é um produto da relação do eu, construído biopsicossocioculturalmente. Então, como construir algo que não é? Complexo, hein!

Provocações à parte, entendi o que a menina quis dizer, mas ainda acho que é uma busca que deve partir de si, por si e para si, sendo esse indivíduo socialmente ativo. A mudança pode começar de um incômodo causado pelo contexto em que se está inserido. Por essa e outras, senti-me compelida a responder a primeira pobre sobre como é bom ter alguém para se repartir ideais e idéias, mas ponderando sobre quem é esse “eu”. Resposta dada, satisfação garantida? Não! Alguém pode me responder, por favor, que diacho de “Filosofia Grunge” é essa que a perversa-polimorfa-superdesenvolvida cita???

O movimento grunge, se é ao que ela se reporta, incitou a cena musical e a moda, mas, além das letras e tons depressivos, não consigo ver um modo de vida para se seguir tendo o grunge como referência de comportamento. Dá para considerar a simplicidade do grunge como uma filosofia a ser buscada? As roupas confortáveis e a música tocada crua para uma catarse e não pelo sucesso me parece muito mais uma forma de suavizar uma existência esvaziada de sentido. O frio, a política e o amor podem desiludir as pessoas, trazer uma sensação de não pertencimento social construída no percurso. Tanto que deu no que deu. Quais seriam os comportamentos dos ícones do grunge a serem seguidos?

a) Ser depressivo, drogar-se compulsivamente e dar um tiro na boca como Kurt Cobain.
b) Ser depressivo, drogar-se compulsivamente até uma overdose como Layne Stanley.
c) Ser depressivo, drogar-se compulsivamente e se internar para reabilitação como Chris Cornell.
d) Beber compulsivamente, manter-se no anonimato e militar por causas justas como Eddie Vedder.

O sucesso da alternativa “d” é óbvio, já que é o único vivo com dignidade (se o Chris Cornell nos der um bom trabalho com o Soundgarden ressurgido, daremos um desconto pela queda ao POP). Assim, peço aos novos que anseiam entoando “Came As You Are” como um hino acompanhado por casacos quadriculados hasteados como bandeiras, por favor, tenham algo na cabeça. A depressão não é algo que se busca é algo com o que se tem que lidar, assim como as injustiças do mundo e decepções amorosas. Filosofia de vida seria inconformar-se e lutar contra isso tudo. Ouçam a música por identificação, não porque seu noivo revoltado disse que é legal. Kurt disse: "Venham como vocês são". Procurem outras bandas, não existe só Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden no mundo grunge. E por fim, se quiserem usar casaco de flanela, lutem contra o aquecimento global!

Um comentário:

Fábio disse...

de acordo com o construtivismo,o eu e o outro sao sempre contruido atraves de impressoes e ideias mutuas. nem sempre bem interpretadas por suas partes.
eu acho mt dificil sermos no's mesmos partindo de dentro sem nenhma influencia externa. nao que isso seja falta de personalidade, mas assim eh a vida social.

bjs cella...saudade