sexta-feira, 26 de março de 2010

Carta Aos Meus Amigos



Mes amis,
.
Tenho ouvido comentários de quem me conhece há muito tempo que tem me preocupado. Apesar de saber que vcs me amam e que tudo não passa de pura implicância (rs), encontrei esse texto que justifica muita coisa.
.
Principalmente, ele mostra que eu não mudei nem um centímetro daquilo que sempre fui ou acreditei, só mostra como me encontrei. Que eu só pareço calma, todo mundo sempre soube, mas prefiro dizer que sou apaixonada por algumas coisas, psicanaliticamente, representa melhor meus sintomas, principalmente minha atual tendência "monotemática” que é exatamente onde entra a preocupação que expressei no início.
.
E ainda vou além, conhecendo meu povo como eu conheço, TODOS VOCÊS SÃO DE ESQUERDA, tá bom!? :p
.
Amo vcs!!!
Marcellinha
.
.
24/03/2010Três homens de esquerda
.
Por Fernando Evangelista
.
O governo Lula trouxe à baila uma discussão que alguns intelectuais, daqui e de fora, haviam decretado como ultrapassado: o que é ser de esquerda hoje? O presidente, mesmo sem querer, ressuscitou o debate ainda no início do seu segundo mandato, deixando muita gente confusa.
.
O problema é que a dúvida durou pouco e ficou mais ou menos assim: exceto alguns inexpressivos grupos partidários, é de esquerda quem apóia o governo Lula, é de direita quem o critica. O curioso é que o próprio presidente disse, em mais de uma ocasião, que não é e nunca foi de esquerda. Porém, algumas coisas devem ser ignoradas porque senão tudo perde o sentido.
.
Vive-se um Fla-Flu político pouco polido e muito raivoso, e quanto mais próximas as eleições, maiores os decibéis da gritaria entre simpatizantes e críticos do governo. Por isso, de maneira simples e objetiva, destaco algumas posturas que, na minha visão, seriam os pressupostos formadores do homem ou da mulher de esquerda.
.
Escolhas
Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
.
Continua em
http://carosamigos.terra.com.br/

5 comentários:

dayvid disse...

Marcelinha, hoje em dia o muro que dividia esquerda e direita não existe mais. É apenas uma linha imaginária que existe no terreno das teorias.
A guerra fria acabou, o mundo aderiu ao capitalismo e os territórios comunistas se mostraram um fiasco em suas experiências.
Milhões de pessoas viveram nestes países sob a sombra da ditadura, privados de progresso, bem estar, e sobretudo, liberdade.
Em nosso país vivemos sob um governo dito de esquerda, mas que na prática se mostra totalmente de direita. O maior mérito do governo Lula foi ter mantido os fundamentos do governo FHC. O sorriso petista surfa no sucesso econômico implantado anteriormente, sobretudo a estabilidade econômica e o controle da inflação, e pesquisas comprovam que a popularidade de um presidente está diretamente ligada ao sucesso de seus indicadores financeiros. É compreensível, já que no fim das contas é o bolso quem fala mais alto. O governo petista mudou o tom do discursso para chegar ao poder, e ao contrário do que pregava anteriormente, não rompeu com a política anterior. Viu que o time estava ganhando, e bola pra frente!
É uma pena, ainda, usarem bons projetos sociais como propaganda política para o favorecimento da Dilma. Mas isso é assunto para uma outra discussão.
O que impede um país, estado ou município de crescer não é a origem partidária do político que o governa. O mal a ser combatido é a corrupção. Se o dinheiro desviado de hospitais, creches, obras públicas, etc, não fosse parar no bolso de pemedebistas, petistas, ou pecedebistas, viveríamos num mundo muito melhor.
Deste modo, podemos separar as coisas como humano ou desumano.
Não é um político dito esquerdista que proporciona o bem às pessoas, e sim a índole deste. Generalizar, dizendo que a direita é má e a esquerda ruim é um grande erro.
A coisa é muito mais complexa do que direita e esquerda. Existem milhares de direções dentro de cada um de nós, e nos cabe escolher o caminho que nos propiciará fazer o bem.

Marcellinha disse...

Meu amigo, acho que não preciso dizer o quanto respeito sua opinião, prefiro expressar isso com nossas longas e agradáveis conversas. Assim como a gente sempre conversou, vou questionar alguns pontos do que você falou e colocar outras opiniões no diálogo.

"É apenas uma linha imaginária que existe no terreno das teorias"
Com certeza comunismo e capitalismo ficam muito atraentes na teoria. Apesar de me identificar muito mais com uma política sem a mais valia, entendo quando as pessoas colocam que ser recompensado pelos seus esforços é muito interessante. Mas meu questionamento e minha insistência no assunto não tem a ver com esta divisão, meu problema é com o esquecimento do período da ditadura. E para quem acredita que isso é passado, veja este link:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=913125&tid=5449821205202971299&start=1

"territórios comunistas se mostraram um fiasco em suas experiências"
Seria muita hipocrisia da minha parte fazer apologias irrestritas ao Comunismo, o caso de Cuba é controverso, mas tem casos na China que são de sucesso (depois te passo o link da BBC que mostra isso) e a Venezuela está se desenvolvendo muito bem, apesar da mídia manipular estas informações.

"O maior mérito do governo Lula foi ter mantido os fundamentos do governo FHC. O sorriso petista surfa no sucesso econômico implantado anteriormente, sobretudo a estabilidade econômica e o controle da inflação"
Bom, quanto à isso, não consigo mesmo ver as coisas desse jeito. A expansão da política externa, tão criticada no início do governo Lula, foi quem nos salvou da crise do capitalismo que derrubou os países desenvolvidos e quem tinha livre comércio apenas com estas nações. O próprio projeto escolas conectadas, que nós atendemos lá no trabalho, democratizou a informática dando acesso às escolas. Principalmente, a "abertura" dos arquivos da ditadura, por mais que não tenha sido efetiva ainda, já fomentou a discussão sobre o assunto.

"no fim das contas é o bolso quem fala mais alto", "O mal a ser combatido é a corrupção", "Não é um político dito esquerdista que proporciona o bem às pessoas, e sim a índole deste. Generalizar, dizendo que a direita é má e a esquerda ruim é um grande erro", "nos cabe escolher o caminho que nos propiciará fazer o bem"
Concordo plenamente com isso tudo e acredito que a única forma de resolver este problema é com educação. É fazer com que as pessoas tenham consciência política e social. É dar subsídio para que as pessoas possam ter consciência e responsabilidade pelos seus atos e não "domar" o povo para agir como se deseja. É ai que eu volto no ponto da ditadura. Desde a Reforma Capanema que se havia um investimento em educação, o governo Jango estava disposto a lutar pelas reformas de base, que incluiam reforma agrária (redestribuição de renda) e mais investimentos em educação. Como resultado, temos uma juventude politizada na década de 60. Com a repressão, torturas e censuras, a população foi adestrada à "engolir sapos" e, por mais que muitos digam que no início as marchas das famílias mostrassem que era isso que a população queria, o AI-5 fez com que estas pessoas mudassem de idéia. Se quem estava vivo se sentisse seguro para falar sobre o assunto, todos veríamos como o medo foi predominante. Minha avó mesmo foi avisar a minha mãe para que cuidasse de mim porque eu estava com discurso comunista e ao falar tal palavra, baixou o tom de voz. Isso não é medo? É realmente interessante viver assim? Não sou à favor do regime X ou Y, sou à favor da LIBERDADE e da EDUCAÇÃO.


Viu!? Ficarmos tanto tempo sem conversar causa textos enormes na internet :)

dayvid disse...

É, Marcellinha, vamos debater. o lance é levantar poeira! Vamos lá:
Quando você citou em sua resposta a China e a Venezuela, não pude me conter. Não é manipulação da mídia não. É fato!
O fato de Chávez ter sido eleito democraticamente não o torna um democrata, muito menos legitima seus atos. Vale lembrar que o referendo que mudou a Constituiçao no país teve suspeita de fraudes.
Ele costuma aplicar na sociedade venezuelana os princípios autoritários típicos das forças armadas. O que se vê é o uso da máquina pública ao seu favor, e uma revolução às avessas. Utiliza os estratagemas da política para minar o Poder Judiciário e o populismo para manipular as massas. Nos últimos 3 anos, em cada 10 assassinatos, 9 permaneceram impunes, segundo o Observatório Venezuelano de Violência.
O governo Chávez jogará a Venezuela na escuridão. A começar pela estatização de várias empresas, quebrando assim contratos em vigor e colocando em xeque a democracia venezuelana. Um dos pilares democráticos é o direito a propriedade. Quando não se respeita o que foi contratado, de que vale firmar algo, já que não há valor legal? É de sumo valor que se façam valer os contratos, pois a quebra destes afasta os investimentos e o mercado se torna obscuro.
Com a máquina estatal inflada à décima quinta potência, Chávez faz dela seu jogo de manipulação. A produção das companhias nas mãos do estado caiu 40%, enquanto o número de funcionários duplicou. "Produtividade e rentabilidade são conceitos do malvado capitalismo e do neoliberalismo", disse. Distribui cargos para seus aliados políticos e demite quem não serve aos seus interesses. O país vive uma rotina de apagões elétricos quase que diários, devido à falta de investimentos do governo.
Outro ponto extremamente negativo de seu governo é a falta de liberdade de expressão. A Venezuela instaurou o crime de opinião. Hoje, todas as redes de televisão podem ser taxadas de chavistas, e as oposicionistas foram caçadas e fechadas. Ao povo venezuelano é negado o direito à crítica. Quem ousa reclamar ou promover greve é punido, muitos em prisão domiciliar. Quase uma centena de dirigentes sindicais já foram processados.
A história há de colocá-lo em seu devido lugar.

Marcellinha disse...

Desculpa a demora, mas vamos lá...

Quando vc diz que ele usa no povo “os princípios autoritários típicos das forças armadas”, tenho que questionar: por que alguém que quer dominar o povo armaria o mesmo com poderosas armas russas? Por que armar o povo se o seu objetivo não é a democracia?

Assisti uma palestra da professora e historiadora Anita Prestes que esteve na Venezuela à convite do governo Chavez para um evento que homenagearia um herói de cada país. Ela foi apresentar a história do pai, Luis Carlos Prestes. Seu discurso aqui objetivava divulgar a imagem que ela própria teve do que está acontecendo por lá. Na palestra, foram apresentados vídeos, fotos e jornais locais, além do discurso de outro intelectual que a acompanhou, infelizmente eu não lembro o nome dele.

Um dos vídeos mostrava o extenso programa “Alô Presidente” que o próprio Chavez apresenta aos domingos. Lógico que tem umas apelações como o presidente dando beijos na filha, dançando com o neto, imitando rappers e ainda tocando harpa, mas tirando isso, os links diretos com as comunas mostram que alimentos estão sendo produzidos no país e que algumas comunas já conseguem se auto-sustentar. Em um país que só vivia de importações pagas com dinheiro de petróleo (a única coisa que era produzida - e exportada) é no mínimo interessante ver que algumas comunas já estão conseguindo fazer escambo de alimentos sem a mais-valia. Segundo o relato de Prestes, a notícia de que falta alimento e energia é falsa. Ela comentou que andou pela cidade e viu feiras fartas.

Outra coisa interessante foi ver que um ministério foi criado para que as comunas tivessem apoio do governo para se organizar. Tem uma mulher no comando desse ministério.

Quanto à repressão, ainda me faço outra pergunta: se a situação fosse tão ditatorial como se está pintando, como haveriam ainda tantos jornais de resistência ao governo Chavez? Mesmo na ditadura que tivemos aqui - que quem provavelmente não perdeu alguém próximo insiste em chamar de ditabranda – não havia circulação de jornais de esquerda e toda a mídia era controlada. Sabemos que havia um meio que tinha certa liberdade, mas sabemos também quais os motivos para esta regalia. O canal estatal de lá é equivalente ao que temos aqui. A diferença é que a população se interessa em assistir. Acho que esse é o feito do Chavez que todos temem tanto, ele estimula a leitura por parte da população o tempo todo. Boa parte deste programa que citei foi passado na palestra e ele cita livros e autores o tempo todo para que a população se instrua.

continua...

Marcellinha disse...

Quanto à estatização de empresas, não consigo ver como isso pode ser um mau prognóstico à longo prazo. Devemos considerar que é um processo de transição e que alguns valores devem ser revistos através de educação para a população.

No dito popular, "onde há fumaça há fogo". Nesse caso, podemos substituir fumaça por petróleo. Da mesma forma que nossas florestas estão cercadas, a Venezuela, que é um grande posso de petróleo, também está. Existem atualmente 11 bases militares em seu entorno apontadas para ela. Adivinha de quem elas são? Arruma-se pretexto para brigar onde o petróleo está, principalmente no Oriente Médio.

O link abaixo é uma matéria da BBC Brasil que mostra como anda uma das poucas comunas que ainda existem na China. Como eu disse, é um processo de transição, mas à longo prazo, a coisa vai parecer muito melhor.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/multimedia/2009/09/090930_chinacomuna_video.shtml

Entendo e respeito quem acha que deve ganhar pelo que produz, mas a relação que temos com o dinheiro é construída e, desta mesma forma, ela pode ser desconstruída e sobreposta valorizando o comum, o coletivo. Se quem vive no capitalismo consegue desenvolver uma consciência coletiva e sobreviver, por que não o contrário?

Queria muito que estas impressões fossem pessoais, pois, excetuando o programa de tv, todas me foram tomadas pela professora. Uma solução, esquece esse negócio de Maceió e vamos de mochilão por ai analisando as formas de governo e formando nossas próprias impressões. Já que perdi minha oportunidade de ir à Cuba...

Ufa! Acho que exagerei. Desculpa!