sábado, 25 de fevereiro de 2012

Gaia




Saí da minha rotina ontem e acabei vendo o jornal na tv. Apesar de não trazer novidade alguma, as notícias internacionais conseguiam ser ainda mais estarrecedoras que as locais. Falaram sobre a fúria dos muçulmanos no Afeganistão pela queima do Alcorão numa base militar americana e sobre a preocupação Norte-Americana com as pesquisas em urânio, subentendendo-se avanços em energia nuclear.

Não entendo nada de química, mas entendo e tento praticar o máximo possível o respeito e não consigo ver o por quê dos EUA ainda estarem no Afeganistão e muito menos a preocupação com as pesquisas alheias. A economia deles não está decadente o suficiente para merecer esta atenção que é tão disponibilizada para a política externa não? Mas que coisa!!! A falta de respeito à soberania dos outros países me irrita.

Sei que estou querendo demais. Se o mundo é formado por nós, como crer em uma evolução se o ser humano está cada vez mais involuído? Se não respeitamos a soberania de quem divide um espaço físico com você, como garantir a de outros países? Mais uma vez, pensar no macro, me remete ao micro. É um espelho que reflete exatamente o que está a sua frente. Se não respeitamos as escolhas das pessoas mais próximas... bom, não pretendo ser redundante.

Quanto ao micro, muitas situações lamentáveis têm me feito pensar, provavelmente muito mais do que deveria. Não sou uma pessoa competitiva, nem quero ser. Não desejo gastar meu tempo olhando ao lado para saber o que está sendo feito para programar minhas atitudes. Prefiro olhar pra dentro e me adaptar ao que está a volta mantendo minha integridade.

A sabedoria de uma menina de agora 7 anos me fez pensar nisso. Ela disse que eu quero mudar o mundo, mas o mundo é que vai acabar me mudando. Respondi que era verdade e que isso provavelmente aconteceria, mas que eu resistiria o máximo que pudesse, que faria e sofreria tudo que fosse necessário para que uma gota de óleo não estrague litros de água. É uma missão árdua, meus estudos incluem essa autoanálise e autoimplicação em tempo integral e isso dói. Dói uma dor que não tem remédio, não tem cura e só o sono alivia, um sono induzido porque o natural é arrancado visceralmente. De um pólo ao outro, a sabedoria de um grande mestre também me inquieta a alma. Ele pergunta: "Qual o remédio para a traição?", sintetizando questões das quais busco uma fuga integralmente.

Sendo o mundo uma expiral, onde vamos girar incansavelmente sem nunca passar pelo mesmo ponto, claro que me vejo na mesma situação atordoante. Uma, duas, três, quatro vezes! Em nenhuma delas foi fácil. É essa a tentativa do mundo de me mudar, me tornar uma pessoa egoísta, mesquinha, frívola, fútil... Posso não ser aquilo que quero, aquilo que me disseram que deveria ser ou aquilo que seria melhor para mim, mas tenho referências negativas que me norteiam e sei perfeitamente o que não quero ser. Não quero ser esse resto. Um produto! Não quero ser desleal. Muito menos, quero um endereço sugestivo, que fale tão claramente a meu respeito.

Não excluo alguém da minha vida por nenhum outro motivo que não suas próprias atitudes. Se em um mundo de opções escolhe-se o mais tortuoso, o mais doloroso não para si, para o outro, é o oposto do que a Ética se apresenta. Palavra difícil, não? Não, atitude em desuso! Se fosse mais constante não seria tão questionada, um tabu. Ética é um bicho-papão porque não se vê, não se experimenta. Fica escondida no escuro da consciência, por isso assusta.

É nesses pensamentos angustiantes que me vem o som que ecoa por todo o labirinto negro e assustador. Se resistir nesse mundo pútrido é necessário, que seja no amor. Se amo a todos, permito que sejam livres, respeito suas soberanias e por mais que doa, prefiro sair de cena. Não quero me misturar ao que é sujo, não quero comer migalhas. Quero me alimentar em uma árvore frondosa cultivada em um bom solo e que tenha sombra. Posso ser nômade em minha busca e, se isso não existir mais, prefiro morrer de fome a comer enlatados, rotulados, sintéticos... falsos.

"Não falo do amor romântico, 
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão,
paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
e pensam que o amor é alguma coisa
que pode ser definida,explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, 
formatado, inteiro, antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim,
que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade
potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo? 
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta?
O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido,
quer ser violado,
quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência. 
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor
não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa, 
como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
o amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
porque somos o alimento preferido do amor,
se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo 
e me jogo do seu abismo, me aventurando ao seu encontro. 
A vida só existe quando o amor a navega. 
Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita.
Ou melhor, só se Vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto".

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