terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Foi, É e Para Sempre Será



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No mercado, outro dia, lembrei que quando bem pequena queria ser uma daquelas meninas que anda de patins para ver preços, trocar mercadorias e pegar troco para o caixa. Achava que era a melhor coisa do mundo poder me divertir andando de patins naquele chão lisinho o dia todo e viver disso.
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Quando cresci mais um pouco, mas ainda criança, queria ser arquiteta. Tinha um balde de Lego (aliás, tenho até hoje!) que montava casas em formatos diferentes. Desenhava a planta no papel antes de montar e a casa era feita aberta, com a divisão dos cômodos à vista e os móveis colocados de forma lógica. Na mesma época, lembro que adorava brincar também com o Meu Pequeno Pônei. Tinha a casinha dele, que na verdade era um estábulo, e imaginava que chovia muito e ele cedia abrigo para as Chuquinhas, bonecas que também tinha coleção. Todas tinham que caber confortavelmente naquele casebre.
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A vontade da Arquitetura durou até os 13 anos, quando acabei o fundamental e tentei a prova para Edificações no CEFET. Não passei e meu pai também conseguiu me convencer que a Informática era a profissão do futuro e que eu levava jeito pra coisa. Ele estava parcialmente certo. Tem muita gente ganhando dinheiro com Informática hoje, mas ao fazer o técnico e um ano de faculdade, vi que não levava o mínimo jeito para ficar atrás de uma mesa de 8 às 17hs de segunda a sexta e não ligava tanto para o dinheiro.
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Patins no mercado? Chuquinhas sem teto com Pônei comunista?
Projetos arquitetônicos em Lego? PC486?

Me vendo muito confusa, ele - como sempre - me ajudou comprando o Guia Abril do Estudante. Bingo! Apesar da adolescência ter nutrido minha vontade de estudar Enologia (para bom entendedor, uma gota é dose), fiquei em dúvida entre as escolhas mais óbvias para as minhas características pessoais: Serviço Social, Ciências Sociais e Psicologia.
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Já deu para notar por alguns posts que tenho problemas graves com burocracias e instituições, Serviço Social estava logicamente fora da jogada. Não consegui vizualizar naquela época uma aplicação profissional para Ciências Sociais... Foi assim que a Psicologia se tornou a ciência da minha vida.
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E é literalmente a ciência da minha vida. Isso tudo aconteceu até meus 17 anos, ou seja, há 13 vivo para a Psicologia porque, é claro (!) não tinha dinheiro para pagar a faculdade e a pública... bom, sinceramente, a pública não era uma opção tão desejada naquela época. Usei os conhecimentos em Informática para conseguir um emprego que ainda não pagava a faculdade. Lá, me ofereceram um aumento de 100% se eu me formasse Técnica em Telecomunicações. Adivinha só? Foi o segundo sacrifício que fiz pela Psicologia. Ano depois, diploma na mão e aumento no banco, comecei a tão sonhada faculdade de Psicologia.
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Meu primeiro dia de aula foi simplesmente mágico! O campus era enorme, exatamente como eu sonhava, e me perdi buscando a salinha lá no fim de tudo. Ao entrar na aula de Filosofia, interrompi o professor que, atenciosamente, me recebeu:
- Estava perdida?
- Sim, professor. Desculpe o atraso.
- Sente-se. Venha se perder conosco.
E me perdi... Entrei num mundo sem volta e me apaixonei perdidamente pelas questões do ser humano no mundo.
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Além dessa, lembro perfeitamente de tantas outras aulas que ratificaram minha escolha. Em Introdução à Psicologia, me espantei ao descobrir que as árvores não existem, mas sim, os feixes luminosos que elas refletem, ou seja, nossa percepção é que faz com que elas sejam no mundo. Em Psicanálise, me choquei com o palavreado usado na atuação perfeita da professora ao nos ensinar usando como exemplo uma mulher moderna, executiva de sucesso, com um problema ginecológico sem causa orgânica. Em Psicologia Hospitalar me gabei de terminar o semestre com média 9.5 e nos estágios, gelei no primeiro atendimento quando o paciente me pôs para fora do quarto aos gritos. Mas nada, nada foi igual à descoberta da Análise Institucional. Se me perdi no primeiro dia de aula, foi alí que me encontrei. Percebi que minha vida profissional e a forma como desenvolvi minha personalidade tinham encontrado um ponto em comum e que, mais do que me divertir andando de patins nos mercados, ou me contentando em não ter que ficar presa na frente de um computador 40hs/semana por dinheiro, eu seria feliz com mais quesionamentos que respostas, mas acima de tudo, fazendo alguma coisa de útil pela sociedade.
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Para entender melhor isso tudo, entrei de cabeça na História. Foi um ano de aulas, um grupo de estudo e muitos livros e palestras. Encontrei a convergência entre o político e o social. Me atrevi dando mais um passo à Psicologia e Análise Institucional, assisti um ano e meio de aulas como ouvinte no mestrado.
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Agora, a vida faz sentido novamente. É tudo novo de novo, como diz a música do Moska. Há um ano larguei tudo que fiz pela Psicologia para me dedicar exclusivamente à Psicologia e todas as coisas que a atravessam. Confesso que mergulhar do alto onde subi é muito assustador. Depois de conquistar tantas coisas profissionalmente, me vejo recomeçando, porém, em algo que desejei por muito tempo. Me jogo de cabeça, sabendo que a queda é alta, mas o lago é profundo. Conquistar uma vaga no Mestrado é o primeiro passo de muitos que, espero, venham ao meu caminho.
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Com todos os altos e baixos que o estudo das humanidades nos leva, já fiquei doente, fui criticada por enlouquecer de tanto estudar, chamada de comunista, sumi da vida social e de amigos, abdiquei de relacionamentos... Essa é a minha contradição, um egoísmo que prima pelo coletivo. Pois é, tenho a capacidade de criar mais perguntas do que dar respostas, mas posso garantir que essas perguntas farão algum sentido algum dia. O dia que muitas outras perguntas mais complexas ocuparem nossas mentes.
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Nesse ponto, você deve estar questionando porque está perdendo seu tempo lendo isso tudo quando nos outros blogs as pessoas descrevem tantas outras coisas mais interessantes. A pesquisa é minha atual aventura que não é mais cotidiana, não há rotina. Esse é o espaço das catarses e... ah, sei lá! Talvez só tenha querido dividir meu caminho, minhas alegrias e expectativas por um futuro que estou ansiosa por recomeçar agora. Tenho sobrinhas muito presentes na minha vida que, por alguma razão que desconheço, levam a sério as coisas que falo. Fica então o registro de como as coisas estão acontecendo comigo. Quem tiver do meu lado saberá o fim do caminho, ou o meio, espero! O fim, pretendo deixar para alguém continuar por este mundo.
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Obrigada pela paciência e o apoio!
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Tudo Novo De Novo, Moska (Vídeo legendado)
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*** Não é o fim do blog não, hein!!!

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