quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Indique o Sujeito da Oração


Em uma breve atenção à qualquer discurso percebe-se sua qualidade e muito sobre quem o pronuncia através dos sujeitos usados.

O "eu" é o campeão, a primeira pessoa. Seu uso excessivo pode significar para os "psi-chatos" de plantão uma necessidade de ser visto nesta concorrência desleal que é nosso convívio, pois o "eu" tem um rival muito forte: "o outro eu". Não, não estou sendo lacaniana, longe de mim! Descobri que não tenho capacidade de abstração suficiente para entender Lacan. Apenas me refiro aos outros seres humanos que tem a mesma necessidade e estão muito ocupados com seus "eus" para perceber o "eu" dos outros.

O "eu" só é sobreposto em um discurso quando se faz conveniente usar um "nós". Isso acontece quando o "eu" não se sente forte o suficiente. Ele usa o "nós" para ganhar corpo e quando isso acontece, o "nós" é desvalorizado e o sujeito reforçado volta a ser "eu".

O "tu" ou "você" é usado como afastamento. É normalmente acompanhado do dedo indicador em riste - aliás, o nome do dedo já diz tudo. O "você" é um grande dedo-duro, um acusador, aquele que como se quisesse lançar uma mágica, joga tudo através do tal dedo em direção ao outro. Claro que esse poder é destruidor.

O "ele" e seu plural são os mais covardes de todos! Também acompanhados pelo dedo, indicam alguém que nem está na conversa. Uma terceira pessoa, onde não se extende o DIálogo.

Para indicar "eu" o tal dedo aponta aos céus mostrando sua soberania. Por isso, mesmo nunca tendo gostado de estudar portugês, vejo como é importante analisar o sujeito das orações e nas minhas, a parte que mais se intensifica é: "não nos deixe cair em tentação e livra-nos de todo o mal. Amém!"

George Harrison fala mais sobre isso na música I Me Mine, dos Beatles.

5 comentários:

Peterson Quadros disse...

"All thru’ the day I me mine.
I-I me-me mine, I-I me-me mine."

O "Eu" é uma afirmacao importante na vida de alguém...
Confesso que ao ver a foto (é o George?) e o título pensei que leria outra coisa...
Essa ideia de "tu" e "voce" como afastamento, os dedos que se intercalam ao "sujeito" que realmente somos, o "ele" quase um fofoqueiro e o final...ah, o final...fantástico! obrigado

Marcellinha disse...

Oi, Peterson!
Sim, é o George Harrison! Achei incrível a foto. Coloquei ela de propósito mesmo =)
Que bom que gostou, fico muito feliz.
Sou eu quem deve agradecer!

Thais disse...

“perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” Também sou péssima de português, mas Isso não quer dizer que devemos ser julgados como julgamos aos outros? Então, eu desejo para o meu “eu” o mesmo dedo que aponto a “voz”. É bom pensar aonde se enfia o dedo, pois se ele volta na mesma media ... ui!

Rico! disse...

Muito bom !!!
Ainda bem que fez mençao ao Lacan, pois comecei a ler e pensei nele, mas no decorrer do texto percebi que tb tenho que começar a analisar mais os sujeitos das oração, inclusive as minhas!!!
PARABÉNS MOCINHA!

dayvid disse...

Marcellinha, seus textos têm grande qualidade. Esse "Indique o Sujeito da Oração" ficou espetacular.
Seu estilo é leve, sem deixar de ser ácido, e tem a maior das formas de beleza: simplicidade.
Você tem capacidade para escrever um livro. Aliás, já está pronto?