domingo, 3 de outubro de 2010

O Rabo Alheio

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Na rua, próximo a zona eleitoral, um casal estica os braços. Tinham um folheto nas mãos.
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- Não, obrigada... e o que vocês estão fazendo e crime.
- Eles são todos bandidos.
- E vocês estão compactuando.
- Precisamos do dinheiro.
- Consigam de uma forma honesta.
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Penso muito em participação popular, é meu tema de pesquisa. Situações como essas só aumentam minha lista de inquetações. Quem somos nós para exigir honestidade se não agimos desta forma? Será que não estamos sendo representados direito? São os políticos que influenciam a população ou a população que influencia os políticos? Não somos frutos da mesma realidade opressora?
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São perguntas que me fazem pensar cada vez mais que uma revolução é necessária e que deve começar de baixo. Me refiro à uma revolução à nível molecular, como diz Guatarri, aquela que começa de dentro, transborda e contagia o próximo. Cuidar de nosso próprio comportamento antes de criticar o dos outros. A fagocitose de idéias funciona assim. Entramos em contato com uma idéia que nos afeta de alguma forma e que nos causa inquietação, revolta, alegria etc. Isso serve como alimento, gera uma energia transformadora. Essa energia é tão grande que não cabe só na gente, precisamos dividir com outras pessoas e se repete o movimento. É assim que funciona a moda, a música, a notícia... por que não funcionar para boas idéias? Idéias que possam mudar pequenas realidades. Não que o comportamento de políticos corruptos seja justificável, mas se a desilusão se transforma em desespero, por que não começamos a mudança nós mesmos? Só precisamos saber nos articular. O que me faz admirar as obras de Van Gogh e Munch é que trata-se de um conjunto de pontos diferentes que formam uma imagem.
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Conversava com meu pai hoje sobre a importância do voto. Ele ficou implicando comigo porque cumpri meu dever cívico com a camisa do Brasil. Quis mostrar meu patriotismo, minha alegria por poder votar, celebrar a democracia. As mulheres demoraram tanto para conquistar este direito que por mais de 20 anos foi negado à toda população. Tantas pessoas morreram, foram torturadas e perseguidas para que nossos direitos civis fossem recuperados que o mínimo que podemos fazer é retribuir agindo de forma consciente, esta é a oportunidade e que venha o segundo turno.

2 comentários:

Peterson Quadros disse...

A inquietação inicial, propulsora da verdadeira mudança. O seu texto ficou lindo e a ideia de votar com a camisa do Brasil, maravilhosa. Acredito que essa coisa das" boas ideias" serem "transbordadas" fundamental para construímos algo melhor. O problema sempre é "cuidar do nosso próprio comportamento". Obrigado pelo texto!

dayvid disse...

A democracia é uma das expressões mais bonitas que o homem criou para representar a coletividade. E a partir dela colhemos bons frutos, tendo sua máxima representação nas Constituições.
A Constituição brasileira, assim como a democracia, é perfeita. Representa o governo do povo e para o povo. Tudo está ali, previsto, de forma que em nossa pátria nenhum filho será esquecido e nossas riquezas serão multiplicadas e revertidas para o bem comum.
Mas nós, seres humanos, sempre damos um jeito de encontrarmos brechas, passagens, saídas às margens da lei, em detrimento da coletividade. Nossa capacidade de fazermos o bem ou o mal é infinita.
Vejamos o comunismo: teoricamente também é perfeito. Mas por fim também acaba apodrecendo, pelos mesmos problemas que corroem o capitalismo.
Teoricamente podemos criar muitos outros sistemas perfeitos, assim como creio que quem os cria tem a melhor das intenções. Mas definitivamente, nada disso foi feito para nós, humanos. Nossa vontade de ter ou ser é maior do que qualquer teoria ou prática.