segunda-feira, 3 de maio de 2010

Propaganda É a Alma do Negócio


“O Dia da Mães é a segunda data mais importante para o comércio, perdendo apenas para o Natal. De olho nesse mercado, a [nome da empresa] está com uma campanha especial para esse período”

Essa é a mensagem que mostra a estratégia de uma empresa para o dia das mães. Ocultei o nome da empresa por razões óbvias, mas ela mostra como pegar um ícone estereotipado e transformar em alguma coisa pela qual você deva consumir.

Tenho a sorte de ter uma mãe com quem aprendo, me divirto, passeio, converso, divido... enfim, faz parte do estereótipo materno e possui adendos que só aquela baixinha tem. Temos uma afinidade absurda, mas reconheço que meu caso talvez não seja regra. Quando chegam essas “datas de presentes” eu penso no peso que deve ser para quem não tem dinheiro ou quem não tem uma figura materna, paterna...

Imagine que você é criança e na escola a professora passa um trabalhinho para dar de presente para sua mãe, mas você não tem mãe e não lida bem com isso. Será que a escola tem aparato suficiente – profissionais treinados, inclusive - para lidar com este problema? Se não tiver, será que a família que, provavelmente, será reportada (ou pelo menos deveria) tem?

Agora uma situação que cabe em qualquer idade. Se você tem uma mãe nada afetuosa. Será que realmente precisa se relacionar com ela e demonstrar seu afeto com um presente? Os laços de sangue falam mais alto que as experiências da convivência? Os índices de violência doméstica deveriam considerar o fato para estas datas. Imagino a culpa que o indivíduo pode sentir por não gostar da mãe ou achar que o comportamento dela é resposta ao dele e, ainda, as conseqüências de uma rejeição.

A outra questão é de caráter mais “prático”: dinheiro, o tal mal necessário! Alguém já parou pra se perguntar quanto vale uma pessoa? Quanto vale a sua mãe? Quanto em presente a sua mãe merece? As boazinhas sempre dizem que um abraço já vale qualquer presente, mas o comércio diz o contrário (literalmente, em algumas propagandas!). Tenho problemas com isso e não é só com a minha mãe. Detesto sair para comprar presente! Nunca encontro nada que represente meu afeto pelas pessoas. Acho que o presente mais significativo que eu já dei foram incensos. No natal de mil novecentos e início da chacota, escolhi individualmente incensos que representassem o que eu queria para cada amigo meu. Qualquer pessoa que eu goste, e com quem me sinta à vontade, sabe que não deve esperar presentes em datas comemorativas, assim como também não faço questão. A pressão de comprar um presente consome. Prefiro estar passando na rua, ver alguma coisa que me remeta alguém querido e comprar. Assim sem data, me endividando na hora. Se esperar chegar o dinheiro, o troço não existe mais. Tenho tendência a coisas que não existem.

A solução que encontrei foi oferecer momentos. Já dei viagens e desfiles de escola de samba para meus pais, um vale babá para minhas irmãs poderem sair, jantares e drinks para meus amigos. Funciona!

Não digo que seja ruim ter um dia para as mães, mas a forma como isso é encarado. No natal todo mundo é caridoso (só no natal), no dia dos namorados motéis lotam, no dos pais e das mães os restaurantes ficam impraticáveis... Em todos eles, dias antes os shoppings já estão abarrotados e as caixas registradoras gordas. O dia trabalhador passou e não ganhei presente!
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À propósito, os shoppings abriram e até tarde para que pudéssemos comprar os presentes das mães, mas e quem trabalha lá? Não tem direito ao descanso? É dia do trabalhador, não do trabalho! É a pessoa que deve ser recompensada, não a atividade. Da mesma forma que nas outras datas comemorativas são as pessoas que devem ser enaltecidas, não os shoppings. Para fazer girar a economia, uma lembrancinha basta.

"Mallrats" filme de Kevin Smith, entitulado no Brasil como "Barrados no Shopping"


Um comentário:

Ju Felix disse...

Realmente... a mídia muitas vezes é cruel...