quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pra Frente Brasil




Começou ontem às 13hs. Foi oficial, com direito a hotel na Barra e imprensa presente. Percebi os primeiros sintomas outro dia, no ônibus (claro!), conversando com um amigo que já foi criticado por mulheres por não gostar de futebol. Ele inicia o diálogo assustador:

- Você viu o jogo ontem? Indagou.
- Não. Respondi atônita e mudei de assunto.

Minutos depois ele insiste:

- Foi incrível! Acho que o juiz estava roubando. Não foi pênalti!

Comecei a ficar preocupada e não resisti:

- O que está acontecendo? Você anda vendo futebol agora?

Foi uma conversa estranha, mas o que aconteceu ontem foi o improvável. Fui almoçar na Lapa, como sempre, e de uma mesa com meninas escovadas e roupinhas brancas saiam burburinhos que incomodavam os que apinhavam o pequeno lugar. Percebi que estavam com fones de ouvido e cadernos não mão. Anotavam enlouquecidamente e repetiam os nomes. Foi dada a largada para o período de alienação total e patriotismo extremo: a copa do mundo. É assim mesmo, quem não acompanha futebol tem que anotar o nome dos jogadores, afinal, este será o único assunto no próximo mês. Um amigo pediu férias do trabalho para poder ver todos os jogos.

Vou partilhar uma coincidência em tampo real. Existem mulheres conversando sobre futebol atrás de mim nesse exato momento e é divertidíssimo ouvir as referências:

“O Pato não foi convocado. É aquele que separou da Stefani Brito. Só ficou casado seis meses, mas agora está andando com o Ronaldinho Gaúcho e terminou o casamento”.
“Mas o Ronaldinho também não vai. Ele não está numa boa fase”. “O Adriano também não foi convocado. Vive brigando com a noiva e não faz o que é pago pra fazer”.

Sou obrigada assumir que às vezes causa certo embaraço ser do sexo feminino. O futebol é um desses momentos. Ver suas amigas mudando de times para acompanhar namorados, associar jogadores aos seus relacionamentos ou dotes naturais, julgar seus desempenhos em campo baseando-se em notícias de tablóide, sugerir impedimento... ai, ai!

Confesso que, apesar de gostar, não acompanho mais futebol. Tenho alguns motivos. O trauma causado pelo gol de barriga do Renato Gaúcho na final do Carioca de 1995 é, definitivamente, o principal deles. Naquele ano o Flamengo ia muito bem. No “alto dos meus 13 anos”, achava que entendia do assunto e discutia com meu pai botafoguense quando dizia para eu não me importar muito, pois futebol é uma caixinha de surpresas e eles continuavam ganhando o (muito) dinheiro deles. Pois é, aconteceu. Depois disso, tive muitas alegrias, como qualquer flamenguista tem (hehehe), mas o trauma permanece e percebi que não adiantava ficar tão nervosa como ainda fico nos jogos do meu time. Vejo alguns pela tv, vou ao estádio, mas tento manter uma postura que já descobri ser saudável quando se trata do meu time.

Converso muito - e divertidamente - sobre o assunto com Capel e fizemos uma analogia cabível ao Flamengo. Lembra do filme “Madagascar”? Quando os pingüins são pegos fugindo do zoológico, Skipper, o Capitão, mantêm a calma e diz: “Continuem acenando”, ou seja, finjam que tudo está bem. É isso!!! Alguém já percebeu que não existe uma campanha onde o Flamengo comece e termine bem? Se vai bem no início, se prepare que lá vem bomba. Caso contrário, o time sai ignorando a propensão cardíaca da torcida e derrubando todo mundo. É lindo! Mas não comece a “tirar onda”. Se se gabar ou acreditar veementemente, perdemos o título.

Revendo o texto resolvi incluir um protesto. Acho a rivalidade uma brincadeira saudável e até divertida, mas é patético o que aconteceu no Flamengo e Corinthians. O jogo não afetava nenhuma outra torcida carioca, mas parecia que sim. Estava em uma pizzaria - que lamentável, vocês pensam. Ela só come e anda de ônibus! - e os gritos de gol do Timão ecoavam como se estivesse no meio da Torcida dos Operários. Entendo quando há pontuação em jogo, mas os outros times cariocas não tiveram desempenho de se classificar para a Libertadores e torcem como se só houvessem duas possibilidades no futebol: Flamengo e o resto do mundo. "Não existe ódio implacável a não ser no amor" (Propércio). Ainda bem que, como John Lennon cantou, "all we need is LOVE".

Queria muito que o nacionalismo da copa do mundo se estendesse para os outros períodos e assuntos. Ainda bem que a eleição para presidente é no mesmo ano. Pelo menos estamos imbuídos dessa alegria verde e amarela para as urnas. Até as ruas estão enfeitadas! Acho que só deveríamos receber turistas neste período. Assim como vemos nos filmes americanos as bandeirinhas hasteadas nas casas de subúrbio, vemos aqui, por outros motivos, infelizmente.

No filme, Chico Xavier revela que saber que morreria em um dia que todos os brasileiros estivessem felizes. Ele morreu no dia da final da copa do mundo onde o Brasil foi Hexacampeão. Ih, não, hexa é o Flamengo! O Brasil é só penta, o grito ficou entalado. Torçamos juntos para que se iguale ao Mengão.

Mais sobre o assunto futebol:
http://pitacosacidos.blogspot.com

6 comentários:

Perfeitus disse...

Gostei do texto.
Mas pense no futebol como uma religião. Ele tem muitos "contras". Ele aliena as mentes fracas. E fortalece as fortes.

Mas a principal função dele é salvar vidas incentivando a molecada a praticar tal esporte.

Se não fosse o futebol corríamos o risco de ver Ronaldo sendo cafetão de traveco na orla, Ronaldinho traficando armas na fronteira do Rio Grande com Uruguai, Romário vendendo drogas no Jacarezinho e o Edmundo marombado brigando em boate da barra.

Marcellinha disse...

Obrigada pelo elogio, mas pensei ter deixado claro no texto não ter críticas ao esporte. Minha crítica é ao modismo e às disputas desrespeitosas.
Assim como nas religiões, não acho correto não haver espaço para outras opções que não a sua. Debater é saudável, rixas e inveja não.
Já que é pra comparar com religião, não saio por ai torcendo para que eventos evangélicos sejam um fiasco por ser espírita.
Isso de usar esporte como regra para crianças em risco social é outra bobagem. E o que fazemos com a maioria que não se tornaram Ronaldinhos e Romários?

Ju Felix disse...

Bom... só discordo com essa coisa do flamengo ser Hexa... Há controvérsias sobre o assunto! rs

Ah! outro ponto! Gostaria de parabenizar seu pai pelo excelentíssimo gosto "futebolestico"! rs Homem sábio!

Perfeitus disse...

A maioria que não vira jogador aprende que a derrota também ensina. E vira um cidadão melhor do que os traficantes de plantão.

Esporte também é questão de saúde. Mesmo não sendo profissional, jogar bola evita obesidade e diversos problemas vasculares.

Eu também odeio (odeio muito) as mentes fracas e insanas que não sabem lidar com o sucesso do adversário.

Mas é aquele caso do copo pela metade. Pessimistas falam que ele tá meio vazio. Eu afirmo que ele está meio cheio.

Então, todos os problemas que o futebol traz, juntos, não seria pior do que sua ausência na sociedade.

Marcellinha disse...

"jogar bola evita obesidade e diversos problemas vasculares"

Ronaldo prova que toda regra tem sua exceção

"todos os problemas que o futebol traz, juntos, não seria pior do que sua ausência na sociedade"

Apesar de achar que ele não traz muitos problemas, concordo.

Fábio disse...

belo texto cella. mas desculpe-me comentar: as comparacoes de torcidas contra o flamengo, so as veem que eh flamneguista. e como de costume nao percebe quanto o proprio flamneguista sempre, eu digo sempre, eh uma torcida oficial contra todos os times do Brasil, e nao so do RJ. acho que vc se lembra das torcidas criadas pelo flamengo chamadas: Fla-Madrid, Fla-Manchester Fla-LDU e por ai vai.
mas gostei mt do texto, especialmente qtos aos comentarios femininos sobre o mundo do futebol.

bjs